O Outro Lado
Os turcos contra-atacam: conciliábulos muçulmanos. Segunda parte: a mãe de Curbara pressente o desastre ‒ Gesta Dei per Francos 14
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Luis Dufaur
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Continuação do post anterior
A mãe do mesmo Curbara, que morava na cidade de Aleppo, veio imediatamente até ele e, chorando, disse:
‒ “Filho, estas coisas que estou ouvindo, são verdadeiras?”
‒ “Que coisas?”, disse ele.
‒ “Ouvi dizer que você vai entrar em luta com o exército dos Francos”, respondeu ela.
E ele respondeu: “A senhora sabe toda a verdade”.
Então, ela disse:
‒ ”Filho, em nome de todos os deuses e por sua grande bondade, advirto-o a que não entreis em batalha com os Francos, porque você é um cavaleiro invicto, e nunca ouvi falar de qualquer imprudência sua ou de seu exército. Ninguém nunca te viu fugir do campo de batalha diante de um vencedor. A fama do seu exército se espalhou para o estrangeiro, e todos os cavaleiros ilustres tremem quando ouvem seu nome.
“Pois sabemos muito bem, Filho, que você é poderoso na batalha, e valente e engenhoso, e que nenhum exército de Cristãos ou pagãos pode ter coragem diante de tua face, mas à simples menção de seu nome fugirão como ovelhas fogem diante da ira de um leão. E por isso eu te suplico, filho querido, que vos sujeiteis ao meu conselho: nunca vos imagineis em vossa mente ou conselho, de querer fazer guerra com o exército cristão”.
Então Curbara, após ouvir a advertência de sua mãe, respondeu com voz irada:
‒ ”Que é isso, mãe, que estás me dizendo? Acho que estás louca, ou cheia de fúrias. Pois tenho comigo mais emires do que o número de cristãos, de condição maior ou menor”.
Sua mãe respondeu-lhe:
‒ “Ó filho dulcíssimo, os Cristãos não podem lutar com suas forças, pois sei que eles não são capazes de prevalecer contra você, mas o Deus deles está lutando por eles diariamente e está olhando por eles e defendendo-os com a Sua proteção dia e noite, como um pastor cuida de seu rebanho.
“Ele não permite que sejam feridos ou perturbados por qualquer povo, e quem quer que pretenda pôr-se em seu caminho, este mesmo Deus deles coloca igualmente a derrota, assim como Ele disse pela boca do profeta Davi: ‘Dispersai as pessoas que se deleitam nas guerras’, e em outro lugar: ‘Despejai a Vossa ira sobre as nações que não Vos conhecem e, contra os reinos que não invocam o Teu Nome’.
“Antes de estarem prontos para começar a batalha, seu Deus, todo poderoso e potente na batalha, juntamente com os Seus santos, já conquistou todos os seus inimigos.
“Até quando Ele prevalecerá contra você, que são Seus inimigos, e que estão se preparando para resistir a eles com todo o seu valor?! Este, além disso, querido, conhece em verdade: estes. os Cristãos, chamados “filhos de Cristo” e pela boca dos profetas “filhos adotivos e da promessa”, segundo o apóstolo são os herdeiros de Cristo a quem Ele já deu a herança prometida, dizendo através dos profetas: “do nascente ao poente será o vosso limite e ninguém poderá resistir diante de vós”.
“Quem pode contradizer ou opor-se a estas palavras? Certamente, se você empreender esta batalha contra eles, será tua a maior perda e desgraça, e você perderá muitos de seus cavaleiros fiéis e todos os despojos que você tem consigo, e fugirá com inexcedível temor.
“No entanto, você não morrerá agora nesta batalha, mas, neste ano, porque com raiva súbita, Deus não julga imediatamente aquele que O ofendeu, mas quando Ele quer, pune com manifesta vingança, e por isso temo que Ele exigirá de você uma pena amarga. Você não morrerá agora, eu digo, mas perecerá apesar de todos os seus bens presentes”.
Então Curbara, profundamente entristecido em seu coração, diante das palavras de sua mãe, respondeu:
‒ ”Caríssima Mãe, rogo-vos, quem vos disse essas coisas sobre o povo Cristão, de que Deus ama somente a eles, e que Ele detém o mais poderoso exército de lutar contra Ele, e que aqueles Cristãos conquistar-nos-ão na batalha de Antioquia, e que capturarão o nosso espólio, e nos perseguirão com grande vitória, e que morrerei neste ano de morte súbita?”
Então sua mãe respondeu-lhe com tristeza:
‒ “Filho querido, eis que há mais de cem anos foi encontrado no nosso livro e nos volumes dos Gentios que o exército Cristão viria contra nós, nos conquistaria em todos os lugares e dominaria sobre os pagãos, e que o nosso povo estaria sujeito a eles em todos os lugares.
“Mas não sei se estas coisas estão para acontecer agora ou no futuro. Miserável mulher que sou, segui-o desde Aleppo, cidade belíssima, na qual, contemplando e fazendo criativas rimas, eu olhava para as estrelas do céu e sabiamente examinava os planetas e os doze signos, ou multitudes infindáveis. Em todas essas achei que o exército cristão venceria em toda parte, e por isso estou muito triste e temo enormemente ficar sem você”.
Curbara disse-lhe:
‒ “Querida mãe, explique-me todas as coisas credíveis que estão em meu coração”.
Respondendo a isto, ela disse:
‒ “Isto, querido, farei livremente, se eu souber as coisas que são desconhecidas para você”.
Ele disse a ela:
‒ ”Não são Boemundo e Tancredo deuses dos Francos, e eles não os libertam de seus inimigos? Não comeram estes homens, em uma refeição, duas mil novilhas e quatro mil porcos?”
Sua mãe respondeu:
‒ ”Querido filho, Boemundo e Tancredo são mortais, como todo o resto, mas o seu Deus os ama muito acima de todos os outros e lhes dá mais coragem na luta que aos demais. Pois (é) o seu Deus, Onipotente é o Seu nome, que fez o céu e a terra e estabeleceu o mar e tudo que neles há, cuja morada está preparada no Céu para toda a eternidade, cujo poder é temido em todo lugar “.
Seu filho disse:
‒ “Ainda que seja assim, não vou deixar de travar batalha contra eles”.
Então, quando sua mãe soube que ele de forma alguma cederia ao seu conselho, voltou, muito triste, para Aleppo, carregando consigo todos os presentes que podia levar.
Mas no terceiro dia Curbara armou-se e a maioria dos Turcos com ele, e foi em direção da cidade do lado em que se localizava a fortaleza.
Pensando que poderíamos resistir-lhes, preparamo-nos para a batalha contra eles, mas tão grande era o seu valor que não podíamos contê-los e, sob coação, portanto, entramos na cidade.
O portão estava tão incrivelmente fechado e estreito para eles que muitos morreram lá, pressionados pelos demais.
Entretanto, alguns lutaram do lado de fora da cidade, outros no interior, no quinto dia da semana durante todo o dia até à noite.
Fonte: August C. Krey, A Primeira Cruzada: relados das testemunhas e participantes, (Princeton: 1921), 163-68.
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