Os sofrimentos dos Cruzados em Antioquia ‒ Gesta Dei per Francos 11
O Outro Lado

Os sofrimentos dos Cruzados em Antioquia ‒ Gesta Dei per Francos 11


Luis Dufaur





Aconteceu em Antioquia que os grãos e os alimentos começaram a ser excessivamente caros antes da Natividade do Senhor.

Não nos atrevemos a ir para fora; não poderíamos encontrar absolutamente nada para comer dentro da terra dos Cristãos, e ninguém se atrevia a entrar na terra dos Sarracenos sem um grande exército.

Na última convocação de uma assembleia, os senhores decidiram como eles poderiam cuidar de tantas pessoas.



Concluíram eles no conselho que uma parte da nossa força deveria sair diligentemente para arrecadar alimentos e guardar o Exército em toda parte, enquanto a outra parte deveria permanecer fiel na vigia do inimigo.

Finalmente, Boemundo disse, “Senhores e ilustríssimos cavaleiros, se assim o desejarem, e se parecer digno e bom para Vós, serei eu que partirei com o Conde de Flandres, nesta busca”.

Assim, quando as festividades da Natividade haviam sido gloriosissimamente celebradas na segunda-feira, segundo dia da semana, eles e mais de vinte mil cavaleiros e soldados de infantaria partiram e entraram na terra dos Sarracenos, seguros e ilesos.

Foram reunidos, de fato, muitos Turcos, Árabes e Sarracenos de Jerusalém, Damasco, Aleppo, e de outras regiões, que estavam a caminho para reforçar Antioquia.

Então, quando souberam que um exército Cristão estava sendo levado para sua terra, prepararam-se para a batalha contra os Cristãos, e logo ao amanhecer chegaram ao local onde nosso povo estava reunido.

Os bárbaros se dividiram e formaram duas linhas de batalha, uma na frente e uma atrás, procurando cercar-nos de todos os lados.

O digno Conde de Flandres, portanto, cingido por todos os lados com a armadura da Fé verdadeira e o sinal da cruz, que ele usava fielmente todos os dias, foi de encontro a eles, juntamente com Boemundo, e nossos homens precipitaram-se todos juntos sobre eles.

Eles imediatamente puseram-se em fuga e às pressas deram as costas; muitos deles foram mortos, e nossos homens levaram seus cavalos e outros despojos.

Mas outros, que tinham permanecido vivos, fugiram rapidamente e partiram para a ira da perdição.

Nós, porém, voltando com grande alegria, louvamos a Deus e glorificamos a Deus Trino em Um, que vive e reina agora e para sempre, amém.

Finalmente, os turcos, na cidade de Antioquia, inimigos de Deus e do Cristianismo Santo, crendo que o Senhor Boemundo e o Conde de Flandres não estavam no cerco, saíram da cidade e ousadamente avançaram para dar batalha contra nós.

Sabendo que os cavaleiros mais valentes estavam fora, eles armaram emboscada para nós em todos os lugares, sobretudo daquele lado onde o cerco estava se estendendo.

Uma quarta-feira descobriram que podiam resistir e nos atacar. Os mais iníquos bárbaros sairam cautelosamente e, caindo violentamente em cima de nós, mataram muitos dos nossos cavaleiros e soldados que estavam fora de sua guarda.

Até mesmo o Bispo de Puy, nesse dia amargo, perdeu seu senescal, que estava portando seu estandarte. Não fosse um córrego que nos separava, eles teriam nos atacado mais vezes e causado grande dano ao nosso povo.

Nessa altura, o célebre Boemundo, avançando com seu exército da terra dos Sarracenos, chegou à montanha de Tancredo, desejando saber se por acaso encontraria qualquer coisa para levar consigo, porque eles estavam saqueando toda a região.

Alguns, na verdade, encontraram algo, mas outros foram embora de mãos vazias. Então o sábio Boemundo, censurou-lhes, dizendo:

‒ “Oh, povo infeliz e miserável! Oh, o mais vil de todos os Cristãos! Por que quereis ir embora tão rapidamente? Apenas parai, parai até que estejamos todos reunidos, e não vagueis como ovelhas sem pastor. Além disso, se o inimigo encontrá-los vagando, matar-vos-ão, pois eles estão vigiando noite e dia para encontrá-los sozinhos, ou errando em grupos sem um líder, e eles empenham-se diariamente para matá-los e levá-los cativos”.

Quando concluiu suas palavras, ele voltou para seu acampamento com seus homens, mais de mãos vazias que cheias.

Fonte: August C. Krey, A Primeira Cruzada: relatos de testemunhas e participantes, (Princeton: 1921), 132-34.


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