O Outro Lado
Conquista de Antioquia ‒ Gesta Dei per Francos 12
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Luis Dufaur
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Não posso enumerar todas as coisas que fizemos antes da cidade ser tomada, porque não há absolutamente ninguém nestas regiões, quer seja clérigo ou leigo, que possa escrever ou relatar como as coisas aconteceram. Entretanto, vou dizer um pouco.
Havia um certo Emir da raça dos Turcos, cujo nome era Pirus [Firuz], que tornou-se grande amigo de Boemundo.
Através de um intercâmbio de mensageiros, Boemundo muitas vezes pressionava este homem para recebê-lo dentro da cidade da forma mais amistosa possível e, depois de prometer a ele o Cristianismo mais abertamente, mandou dizer que o faria rico, com muitas honras.
Pirus rendeu-se a essas palavras e promessas, dizendo: “Guardo três torres, e prometo entregá-las gratuitamente a ele, e a qualquer hora que ele deseje eu o receberei dentro delas”.
Assim, Boemundo estava seguro de que entraria na cidade, e, encantado, com mente serena e semblante alegre, dirigiu-se a todos os líderes, com palavras alegres, tais como:
‒ “Homens, ilustríssimos cavaleiros, vêde como todos nós, em maior ou menor grau, estamos em extrema pobreza e miséria, e como ignoramos totalmente de que lado nos sairemos melhor. Portanto, se vos parecer bom e honroso, que um de nós se coloque à frente do resto, e se ele puder obter ou planejar (a captura) da cidade por qualquer plano ou esquema, por si ou com a ajuda de outros, vamos a uma só voz conceder-lhe a cidade de presente”.
Eles terminantemente recusaram e repeliram (a sugestão), dizendo: “Esta cidade não deve ser dada a ninguém, mas vamos possuí-la equitativamente, já que tivemos esforço igual, então tenhamos recompensa idêntica com ela”.
Boemundo, ao ouvir estas palavras, riu um pouco para si mesmo e retirou-se imediatamente.
Não muito tempo depois ouvimos mensagens relativas (à aproximação de) um exército de inimigos nossos: Turcos, Publicanos, Agulanos, Azimitas, e muitas outras nações gentias que não sei como enumerar ou nomear.
Imediatamente todos os nossos chefes se reuniram, e realizaram um conselho, dizendo:
‒ “Se Boemundo pode tomar a cidade, por si próprio ou com a ajuda de outros, vamos dá-la a ele livremente e com o assentimento de todos, com a condição de que se o Imperador vier em nosso auxílio e desejar executar todo o acordo, como jurou e prometeu, vamos, por direito, devolvê-la a ele. Mas se ele não fizer isso, que Boemundo a mantenha sob seu poder”.
Imediatamente, portanto, Boemundo começou humildemente a suplicar a seu amigo, diariamente, oferecendo, do modo mais humilde, as maiores e mais doces promessas desta forma:
‒ “Vede, verdadeiramente temos agora um momento adequado para realizar todo o bem que desejamos; portanto, agora, Pirus, meu amigo, ajude-me”.
Enormemente satisfeito com a mensagem, replicou que o ajudaria de todas as maneiras, como ele deveria fazer. Assim, ao cair da noite, ele cautelosamente enviou seu filho até Boemundo como garantia de que ele pudesse estar absolutamente certo de sua entrada na cidade.
Mandou também um recado para ele desta maneira:
‒ “Amanhã, soe as trombetas para que o exército Franco adiante-se, fingindo que saquearão a terra dos Sarracenos, e depois voltem rapidamente pela montanha, à direita. De fato, com a mente alerta aguardarei esses exércitos, e eu vou levá-los para as torres que tenho em meu poder e encargo”.
Então Boemundo mandou chamar um servo seu de nome Malacorona, e ordenou-lhe que, como arauto, admoestasse fielmente a maioria dos Francos para se prepararem para ir à terra dos Sarracenos.
E assim foi feito. Nisso, Boemundo confiou seu plano ao Duque Godofredo e ao Conde de Flandres, também ao Conde de St. Gilles e ao Bispo de Puy, dizendo:
‒ “A graça de Deus favorecendo, esta noite Antioquia nos será entregue”.
Todas estas questões foram finalmente acertadas; os cavaleiros se colocariam nos planaltos e os soldados no pé da montanha.
A noite toda eles cavalgaram e marcharam até o amanhecer, e depois começaram a se aproximar das torres que essa pessoa (Pirus) vigilantemente guardava.
Boemundo logo desmontou e deu ordens para o resto, dizendo:
‒ “Ide, com a mente segura e de feliz acordo, e subi pela escada para dentro de Antioquia que, se Deus quiser, teremos de imediato em nosso poder”.
Subiram a escada, que já tinha sido colocada e firmemente amarrada às estruturas da muralha da cidade. Cerca de sessenta dos nossos homens subiram e distribuíram-se entre as torres que aquele homem estava vigiando.
Pirus, ao ver que tão poucos dos nossos homens haviam subido, começou a tremer de medo por si próprio e por nossos homens, temendo que caíssem nas mãos dos Turcos.
E ele disse, “Micro Francos echome ‒ Há poucos Francos aqui! Onde está o ferocíssimo Boemundo, aquele invicto cavaleiro?”
Enquanto isso, um servo Longobardo desceu novamente, e correu o mais rápido (possível) até Boemundo, dizendo:
‒ “Por que estais aqui, ilustre homem? Por que vieste para cá? Eis que já tomamos três torres!”
Boemundo adiantou-se com o resto, e todos foram alegres até a escada. Assim, quando aqueles que estavam nas torres viram isso, começaram a gritar com vozes alegres:
‒ “Deus o quer!”
Começamos a igualmente a gritar, agora os homens começaram a subir lá em cima de modo espantoso. Então, eles chegaram ao topo e correram apressadamente para as outras torres.
Aqueles com os quais eles se depararam ali foram logo postos à morte; e até mesmo um irmão de Pirus foi morto.
Entretanto, a escada pela qual tínhamos subido quebrou acidentalmente, baixando então, entre nós, o maior desânimo e tristeza.
Contudo, embora a escada estivesse quebrada, havia ainda perto de nós um portão que havia sido fechado do lado esquerdo e, por ser noite, tinha permanecido despercebido por algumas pessoas.
Mas, pelo tato e indagando sobre ele, nós o encontramos, e todos correram para ele e, depois de tê-lo arrombado, entramos por ele.
Então, o barulho de uma multidão incontável ressoou por toda a cidade.
Boemundo não deu nenhum descanso a seus homens, mas ordenou que seu estandarte fosse levado até a frente do castelo em uma colina. Na verdade, todos juntos gritavam na cidade.
Além disso, quando ao amanhecer, aqueles que se encontravam nas tendas ouviram o violentíssimo brado ressoando pela cidade, saíram correndo às pressas e viram o estandarte de Boemundo em cima do monte, e com rapidez todos correram precipitadamente e entraram na cidade.
Eles mataram os Turcos e Sarracenos que lá encontraram, exceto aqueles que tinham fugido para a cidadela. Outros Turcos saíram pelas portas e, fugindo, escaparam vivos.
Mas Cassiano, seu senhor, temendo enormemente a raça dos Francos, fugiu com os muitos outros que com ele estavam e entraram na terra de Tancredo, não muito longe da cidade.
Seus cavalos, entretanto, estavam exauridos, e, refugiando-se em uma quinta, arrojaram-se em uma casa.
Os habitantes da montanha, Sírios e Armênios, ao reconhecer-lhe (Cassiano), logo o agarraram, cortaram sua cabeça, e levaram-na à presença de Boemundo, para que pudessem ganhar sua liberdade.
Eles também venderam sua espada da cintura e bainha por sessenta besantes.
Tudo isso ocorreu no terceiro dia do mês de Junho, no quinto dia da semana, no terceiro dia antes das Nonas de junho.
Todas as praças da cidade já estavam repletas de cadáveres, de modo que ninguém podia suportá-la devido o mau odor. Só se conseguia andar nas ruas da cidade passando por cima dos corpos dos mortos.
Fonte: August C. Krey, A Primeira Cruzada: relatos das testemunhas e dos participantes, (Princeton: 1921), 151-53.
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