A vitória de Nicéia ‒ Gesta Dei per Francos 8
O Outro Lado

A vitória de Nicéia ‒ Gesta Dei per Francos 8


Tomada de Nicéia
Luis Dufaur




E assim o Duque Godofredo foi primeiro a Nicomédia, juntamente com Tancredo e todo o resto, e lá estiveram por três dias.

O Duque, na verdade, vendo que não havia estrada aberta pela qual ele poderia conduzir seu exército para a cidade de Nicéia, pois um exército tão numeroso não poderia passar pelo caminho por onde os outros haviam passado antes, enviou à frente três mil homens com machados e espadas para cortar e abrir esta estrada, para que ficasse aberta até a cidade de Nicéia.

Eles cortaram essa estrada por uma montanha muito grande e estreita, e fixaram cruzes de ferro e madeira ao longo do caminho para que os peregrinos identificassem o caminho.

Enquanto isso, chegamos a Nicéia, que é a capital de toda a Romenia, no quarto dia, um dia antes da Nona de Maio, e lá acamparam. No entanto, antes da chegada de Boemundo, tal era a escassez de pão entre nós que um pão era vendido por vinte ou trinta denários.



Depois da chegada do ilustre Boemundo, este ordenou que o maior número de provisões possível fosse trazido por mar, que chegaram por duas vias ao mesmo tempo, por terra e por mar, e houve a maior abundância em todo o exército de Cristo .

Além disso, no dia da Ascensão do Senhor, começamos o ataque à cidade por todos os lados, e a construção de máquinas de madeira e torres de madeira, com os quais pudéssemos destruir as torres nas muralhas.

Atacamos a cidade com tanta coragem e ferocidade que chegamos a arruinar sua própria muralha.

Os turcos que estavam na cidade, horda de bárbaros que eram, enviaram mensagens para outros que tinham vindo dar-lhes auxílio.

Eis o que dizia a mensagem: que eles poderiam aproximar-se da cidade com coragem e seguros, e entrar pela porta do meio, pois desse lado ninguém iria se opor a eles ou molestá-los.

Este portão foi cercado naquele mesmo dia ‒ o sábado depois da Ascensão do Senhor ‒ pelo Conde de St. Gilles e pelo Bispo de Puy.

O Conde, aproximando-se por outro lado, foi protegido por poder divino, e com seu poderosíssimo exército se glorificava por sua força terrestre.

E assim ele encontrou os Turcos vindo aqui contra nós. Armados de todos os lados com o sinal da cruz, ele correu em cima deles violentamente e venceu-os.



Eles puseram-se em fuga e a maioria deles foram mortos. Novamente eles voltaram, reforçados por outros, alegres e exultantes, seguros do (resultado) da batalha, e trazendo consigo as cordas com as quais nos levariam atados até Chorosan.

Além disso, alegres começaram a descer a crista da montanha, a uma curta distância. Todos que desceram lá ficaram com suas cabeças cortadas nas mãos de nossos homens; além disso, nossos homens lançavam as cabeças dos mortos longe para dentro da cidade, para que eles (os turcos) pudessem se aterrorizar com isso.

Em seguida, o Conde de St. Gilles e o Bispo de Puy reuniram-se em conselho a respeito de como eles poderiam ter danificado uma certa torre que estava em frente a suas tendas.

Foram designados homens para fazer a escavação, com besteiros [relat. besta] e arqueiros para defendê-los de todos os lados. Então, eles cavaram até as fundações da muralha e assentaram vigas de madeira sob ela, e em seguida atearam fogo a ela.

No entanto, a noite tinha chegado, a torre já tinha caído no meio da noite, e porque era noite não poderiam lutar com o inimigo.

Com efeito, durante a noite os turcos apressadamente construíram e restauraram tão solidamente a muralha, que quando amanheceu ninguém poderia molestá-los daquele lado.

Agora, o Conde da Normandia veio, o Conde Estêvão e muitos outros, e, finalmente, Roger de Barneville. Por fim, Boemundo, bem na frente do exército, sitiou a cidade. Ao seu lado estava Tancredo, depois dele o Duque Godofredo, o Conde de St. Gilles, perto de quem estava o Bispo de Puy.

De tal maneira foi sitiada por terra que ninguém se atrevia a entrar ou sair. Lá todas as nossas forças foram reunidas em um só corpo, e quem poderia ter contado um tão grande exército de Cristo? Penso que ninguém jamais viu ou verá cavaleiros tão distintos!

No entanto, havia um grande lago de um lado da cidade, no qual os Turcos enviavam seus navios para trazerem forragem, madeira, e muitas outras coisas.

Então nossos líderes reuniram-se em conselho e enviaram mensageiros a Constantinopla para pedir ao Imperador que mandasse navios para Civitote, onde há um forte, e que ele devia mandar trazer bois para arrastar os navios pelas montanhas e pelos bosques, até que se aproximassem do lago. Isso foi feito imediatamente, e ele enviou seus Turcopolos com eles.

Turcopolo
Eles não quiseram colocar os barcos no lago no mesmo dia em que eles foram trazidos, mas sob o manto da noite eles lançaram-nos no lago. (Os barcos foram) enchidos com Turcopolos bem enfeitados com armas.

Além disso, nos primeiros albores da manhã, os navios colocaram-se em boa ordem e apressaram-se através do lago contra a cidade. Os turcos maravilharam-se ao vê-los, sem saber se eram tripulados por seus próprios exércitos ou pelo do Imperador.

No entanto, quando reconheceram que era o exército do Imperador, ficaram amedrontados até a morte, chorando e lamentando, e os Francos se alegraram e deram glória a Deus.

Os turcos, além disso, vendo que não poderiam ter nenhum outro auxílio de seus exércitos, enviaram uma mensagem ao Imperador, de que estariam dispostos a entregar a cidade, se lhes permitissem ir embora com suas esposas e filhos e todos os seus bens.

Então o Imperador, cheio de vaidade e maus pensamentos, mandou que eles partissem impunes, sem nenhum medo, e que fossem levados até ele em Constantinopla, com grande certeza (de segurança).

Destes cuidava ele zelosamente, de modo que os tinha preparado contra qualquer dano ou obstáculo da parte dos Francos.

Estávamos empenhados naquele cerco há sete semanas e três dias. Muitos dos nossos homens lá receberam o martírio, e, contentes e jubilosos, entregaram suas almas felizes a Deus.

Muitos dos muito pobres morreram de fome pelo Nome de Cristo, e estes levaram triunfalmente para o Céu suas vestes do martírio clamando em uma voz, “Vingai, Senhor, nosso sangue que foi derramado por Vós, que sois bendito e digno de louvor por todo o sempre. Amém”.

Enquanto isso, após a cidade ter-se rendido e os turcos conduzidos a Constantinopla, o Imperador cada vez mais alegre porque a cidade tinha sido entregue ao seu poder, ordenou que uma enorme distribuição de esmolas fosse feita aos nossos pobres.



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