O fim da Cruzada Popular ‒ Gesta Dei per Francos 2
O Outro Lado

O fim da Cruzada Popular ‒ Gesta Dei per Francos 2


Encontro dos restos da "cruzada popular" de Pedro o Eremita
Luis Dufaur




Um dos episódios mais tristes e errados do tempo da Primeira Cruzada foi protagonizado pela “Cruzada Popular”, ou “dos camponeses”, convocada por um pregador de grande capacidade de atração popular: Pedro o Eremita.

Pedro agiu em desobediência às prudentes exortações do Beato Urbano II. O Papa, e com ele seus sucessores, exortavam à Cruzada com explícita exclusão daqueles que não tinham condições de combater ou habilidades para isso, como anciãos e mulheres.

Pedro com seus inflamados discursos congregou uma multidão de populares, incluindo crianças, incapacitados para uma campanha militar do fôlego da Cruzada, contra inimigos da força bélica e da ferocidade como os turcos seljúcidas.

A multidão de Pedro, sem preparo, sem planificação, sem chefes militares experientes, acabou sendo horrivelmente massacrada pelas hordas maometanas.

Assim narra aquele trágico fim, a Gesta Dei per Francos (A Gesta de Deus através dos Francos):
Pedro o Eremita, pregador popular, agiu sem obediência

Mas Pedro, acima mencionado, foi o primeiro a atingir Constantinopla, nas calendas de agosto, e com ele uma grande hoste de Alamanos.

Lá encontrou Lombardos, Longobardos e muitos outros reunidos. O imperador lhes disse: “Não cruzeis o Estreito até que o chefe da hoste dos Cristãos chegue, pois não sois suficientemente fortes para travardes batalha contra os Turcos”.

Os Cristãos se comportaram mal; derrubaram e queimaram edifícios da cidade, levaram o chumbo com o qual as igrejas foram construídas e venderam-no aos gregos.

O Imperador, enraivecido, ordenou-lhes atravessar o Estreito. Depois da travessia, continuaram a fazer todo tipo de mal, queimando e saqueando casas e igrejas.

Finalmente chegaram a Nicomédia, onde os Lombardos, Longobardos e Alamanos separaram-se dos Francos porque estes estavam constantemente inflados de arrogância.

Os Lombardos e Longobardos escolheram um líder cujo nome era Reinaldo. Os Alamanos fizeram o mesmo.

Entraram na Romênia (na Ásia Menor) e continuaram por quatro dias, para além da cidade de Nicéia.

Eles encontraram uma fortaleza chamada Xerogord, que estava vazia, e tomaram-na. Nela encontraram uma ampla reserva de cereais, vinho e carne, e uma abundância de todos os produtos.

Os Turcos, por conseguinte, crendo que os cristãos estavam na fortaleza, passaram a assediá-la. Havia uma cisterna diante do portão da fortaleza, e em sopé uma fonte de água corrente, perto da qual Reinaldo saiu para interceptar os Turcos.

Mas estes, que chegaram no dia da Dedicação de São Miguel, encontraram Reinaldo e aqueles que estavam com ele e mataram muitos deles.

Pedro o Eremita fez uma cruzada sem nobres e sem organização. Resultado: massacre.
Aqueles que permaneceram vivos fugiram para a fortaleza, que os Turcos logo sitiaram, privando-os de água.

Tal foi a aflição de nosso povo causada pela sede, que sangrou seus cavalos e jumentos e bebeu o sangue; outros jogavam seus cintos e lenços para dentro da cisterna e espremiam a água em suas bocas; alguns urinavam nas mãos uns dos outros e bebiam; outros cavavam o chão úmido e deitavam de costas e espalhavam terra sobre os seus peitos para aliviar a secura excessiva da sede.

Os bispos e sacerdotes, de fato, continuavam a confortar nosso povo, e a admoestá-los para que não sucumbissem: “Em toda a parte sede fortes na fé de Cristo, e não temais os que vos perseguem, assim como o Senhor disse: “Não temais os que matam o corpo, mas não são capazes de matar a alma”.

Esta angústia durou oito dias. Então, o senhor dos Alamanos fez um acordo com os turcos de entregar-lhes seus companheiros e, fingindo ir à luta, fugiu até eles, e muitos com ele.

Contudo, os que não estavam dispostos a negar o Senhor receberam sentença de morte; alguns, a quem levaram vivos, dividiram entre si como ovelhas; colocaram outros como alvos e os mataram com flechas; a outros venderam e doaram como animais.

Levaram alguns levaram cativos para suas próprias casas, outros para Chorosan, outros para Antioquia, outros para Aleppo ou onde quer que morassem. Estes foram os primeiros a receber um martírio feliz em nome do Senhor Jesus.

Em seguida, os turcos, ouvindo dizer que Pedro o Eremita e Walter Sans Avoir estavam em Civitote, localizada acima da cidade de Nicéia, lá foram com grande alegria para matá-los e os que estavam com eles.

E ao chegarem encontraram Walter com seus homens e logo os mataram a todos.

Mas Pedro o Eremita tinha ido a Constantinopla, um pouco antes, porque não conseguia conter as diversas hostes que não lhe davam ouvidos.

Apontou o caminho errado
De fato, os turcos precipitaram-se sobre estas pessoas e mataram muitas delas. Algumas encontraram dormindo, algumas deitadas, outras nuas – mataram a todas.

Com essas pessoas encontraram um certo padre celebrando Missa, a quem logo martirizaram sobre o altar.

Aqueles que conseguiram escapar fugiram para Civitote, outros atiraram-se de cabeça no mar, enquanto alguns se esconderam nas florestas e montanhas.

Mas os turcos, perseguindo-os até a fortaleza, colheram madeira para queimar o forte. Os cristãos que estavam no forte, portanto, atearam fogo à madeira que tinha sido colhida, e o fogo, virando em direção dos turcos, cremou alguns deles; mas o Senhor livrou nosso povo do fogo naquele momento.

No entanto, os turcos pegaram-nos vivos e dividiram-nos, assim como haviam feito aos outros, e os espalharam por todas estas regiões, alguns para Chorosan e outros para a Pérsia.

Isso tudo aconteceu no mês de outubro. O Imperador, ao ouvir que os turcos tinham dispersado nosso povo desta maneira, ficou extremamente feliz, mandou buscá-los e os fez cruzar o Estreito. E depois de o terem atravessado, comprou todas as suas armas.



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