O Outro Lado
Os turcos contra-atacam: conciliábulos muçulmanos. Primeira parte: entre os chefes turcos ‒ Gesta Dei per Francos 13
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Luis Dufaur
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Algum tempo antes, Cassiano, Emir de Antioquia, tinha enviado uma mensagem para Curbara, chefe do Sultão da Pérsia, enquanto ele ainda estava na Chorosan, para vir ajudá-lo enquanto ainda havia tempo, porque um poderosíssimo exército de Francos tinha sitiado Antioquia.
Se o Emir o ajudasse, ele (Cassiano) lhe daria Antioquia, ou o enriqueceria com um dom muito grande.
Como Curbara tinha, há muito tempo, reunido um enorme exército de Turcos, e tinha recebido permissão do Califa, o seu papa, para matar os cristãos, ele começou uma longa marcha para Antioquia.
O Emir de Jerusalém veio em seu auxílio com um exército, e o Rei de Damasco chegou lá com um exército muito grande.
Na verdade, Curbara reuniu também incontáveis povos pagãos: Turcos, Árabes, Sarracenos, Publicanos, Azimitas, Curdos, Persas, Agulanos e inúmeros outros povos.
Os Agulanos eram três mil, e não temiam lanças, setas, nem qualquer tipo de armas, porque eles e todos os seus cavalos eram equipados com ferro ao redor, e em batalha eles se recusavam a carregar qualquer armamento, exceto espadas. Todos estes vieram ao cerco de Antioquia para dispersar o agrupamento de Francos.
E quando se aproximaram da cidade, Sensadolus, filho de Cassiano, Emir de Antioquia, foi ao encontro deles, e em lágrimas correu logo para Curbara, rogando-lhe com estas palavras:
‒ “Chefe invencível, eu, um pleiteante, suplico-Vos que me ajudeis, agora que os Francos estão me sitiando de todos os lados na cidade de Antioquia; agora que têm a cidade sob sua influência e procuram afastar-nos da região da Romênia, ou mesmo ainda da Síria e de Chorosan. Eles têm feito tudo o que queriam, mataram meu pai, agora nada mais resta a não ser matarem-me, e a Vós, e todos os outros de nossa raça. Há muito tempo espero sua ajuda para socorrer-me este perigo”.
Respondeu-lhe Curbara:
‒ “Se quereis que de boa vontade eu entre em seu serviço, e para ajudá-lo fielmente neste perigo, ponha aquela cidade em minhas mãos, e depois vêde como eu o servirei e protegerei com os meus homens”.
Sensadolus respondeu:
‒ “Se puderes matar todos os Francos e dar-me suas cabeças, dar-te-ei a cidade, e prestar-te-ei honras e guardarei a cidade sob teu senhorio”.
A isto Curbara respondeu: “Isso não vai dar certo; entregue-me a cidade”. E, querendo ou não, ele lhe entregou a cidade.
Mas no terceiro dia depois que tínhamos entrado na cidade, a guarda avançada de Curbara correu na frente da cidade; seu exército, no entanto, acampou no Portão de Ferro.
Tomaram a fortaleza de assalto e mataram todos os seus defensores, que encontramos atados com correntes de ferro, depois que a maior batalha havia sido travada.
No dia seguinte, o exército dos pagãos moveu-se, e, aproximando-se da cidade, acampou entre os dois rios e ficou lá por dois dias.
Depois de terem retomado a fortaleza, Curbara convocou um de seus emires que ele sabia ser veraz, gentil e sereno e lhe disse:
‒ “Quero que tomeis sob vosso encargo a guarda desta fortaleza em fidelidade a mim, porque há muito tempo sei que sois fidelíssimo; portanto, peço-vos guardar este castelo com o maior cuidado, pois, como sei que sois prudentíssimo em vossas ações, não posso encontrar aqui ninguém que seja mais veraz e corajoso”.
A ele, o Emir respondeu:
‒ “Nunca recusaria obedecê-lo em tal serviço, mas antes de que me persuadais apelando, darei meu consentimento, com a condição de que, se os Francos expulsarem seus homens do mortal campo de batalha e conquistarem, imediatamente entregarei esta fortaleza a eles”.
Curbara disse-lhe:
‒ “Reconhecendo sua honradez e sabedoria, consinto plenamente a qualquer bem que deseje fazer”. E então Curbara retornou ao seu exército.
Imediatamente os Turcos, debicando dos ajuntamentos de Francos, trouxeram à presença de Curbara uma certa espada muito miserável coberta de ferrugem, um arco de madeira muito desgastado e um lança extremamente inútil que tinham acabado de tomar de peregrinos pobres, e disseram:
‒ “Eis as armas que os Francos levam para travar batalha contra nós!”
Então Curbara começou a rir, dizendo diante de todos que estavam naquele encontro:
‒ “Estas são as guerreiras e brilhantes armas que os cristãos trouxeram contra nós na Ásia, com as quais eles esperam e contam expulsar-nos para além dos limites da Chorosan e apagar nossos nomes para além dos rios da Amazônia, eles que tocaram nossos parentes da Romania e da cidade real de Antioquia, que é a famosa capital de toda a Síria!”
Em seguida, convocou seu escriba e disse:
‒ “Escreva rapidamente diversos documentos que devem ser lidos em Chorosan.
“Para o califa, o nosso Papa, e para nosso Rei, o Senhor Sultão, o mais valente dos cavaleiros, e para todos os mais ilustres cavaleiros de Chorosan; saudações e homenagem sem medida.
“Deixe-mo-los alegrarem-se e deleitarem-se em alegre concórdia e satisfazerem seus apetites; deixe-mo-los comandarem e darem a conhecer a toda aquela região que as pessoas se entregam inteiramente à exuberância e ao luxo, e que se alegram de ter muitos filhos para lutar bravamente contra os Cristãos.
“Recebam eles, com prazer, estas três armas que recentemente tomamos de um esquadrão de Francos, e que saibam agora que armas os exércitos Francos usam contra nós; arcos muito finos e perfeitos que usarão contra as nossas armas, que são duas, três vezes, ou até mesmo quatro vezes soldadas ou purificadas como a mais pura prata ou ouro.
“Além disso, saibam todos, também, que impedi os Francos de entrarem em Antioquia, e que mantenho a cidadela à minha inteira disposição, enquanto eles (os inimigos) estão embaixo na cidade.
“Da mesma forma, agora tenho a todos em minhas mãos. Fá-los-ei sofrer pena de morte, ou serem levados até Chorosan no mais duro cativeiro, porque com suas armas estão nos ameaçando para retirar-nos e expulsar-nos de todo o nosso território, ou lançar-nos fora além da Índia superior, como expulsaram todos os nossos irmãos da Romenia ou da Síria.
“Agora eu te juro por Maomé e todos os nomes dos deuses, que eu não voltarei diante de Vós até que eu tenha adquirido, com a minha forte mão direita, a cidade régia de Antioquia, toda a Síria, Romenia e Bulgária, até a Apúlia à honra dos deuses, e à Vossa glória, e à de todos aqueles que são raça dos turcos”.
E assim concluiu ele suas palavras.
Fonte: August C. Krey, A Primeira Cruzada: relados das testemunhas e participantes, (Princeton: 1921), 163-68.
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