O Outro Lado
Islâmicos comemoram invasão – A perda de Jerusalém 4
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Luis Dufaur
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continuação do post anterior: Saladino ocupa a Cidade SantaDepois que o povo cristão deixou a cidade conquistada, Saladino só se ocupou em celebrar seu triunfo.
Entrou em Jerusalém [em 2 de outubro de 1187] precedido por seus estandartes vitoriosos; um grande número de imanes, de doutores da lei, de embaixadores de vários príncipes muçulmanos, formavam-lhe o cortejo.
Todas as igrejas, exceto a do Santo Sepulcro, tinham sido convertidas em mesquitas. O sultão fez lavar com água de rosas, vinda de Damasco, as paredes do pavimento da mesquita de Ornar e lá colocou ele mesmo o púlpito construído por Nu al-din.
“Ouviu-se a voz dos que chamam para a oração, diz Emmad-Eddin; os sinos calaram-se. A fé exilada voltou ao seu asilo: os derviches, os devotos, os grandes, os pequenos, todos vieram adorar o Senhor. Do alto do púlpito elevou-se uma voz que advertiu os crentes do dia da ressurreição e do juízo final.”
Na primeira sexta-feira que fie seguiu à entrada do sultão em Jerusalém, o povo e o exército reuniram-se na principal mesquita; o chefe dos imanes subiu ao púlpito do profeta e agradeceu a Deus as vitórias de Saladino.
“Glória a Deus, disse ele, aos seus numerosos ouvintes; glória a Deus que fez triunfar o islamismo e quebrou o poder dos infiéis!
Louvai comigo ao Senhor que nos restituiu Jerusalém, a morada de Deus, a residência dos santos e dos profetas.
Foi do seio dessa cidade sagrada que Deus fez viajar seu servidor durante as trevas da noite.
Foi para facilitar a Josué a conquista de Jerusalém que Deus deteve outrora o curso do sol. É nessa cidade que devem no fim dos tempos, reunir-se os povos da terra.”
Depois de ter lembrado as maravilhas de Jerusalém o pregador do islamismo dirigiu-se aos soldados de Saladino e os felicitou por terem enfrentado os perigos e por terem derramado seu sangue para fazer a vontade de Maomé.
“Os soldados do profeta, disse ainda ele, os companheiros de Abu-Becker e de Ornar, marcaram vosso lugar na milícia celeste, e vos esperam entre os eleitos do islamismo.
“Testemunhas do vosso último triunfo, os Anjos regozijaram-se à destra do Eterno; o coração dos enviados de Deus exultou de alegria, Louvai, pois, comigo ao Senhor.
“Não vos deixeis, porém, levar pelas fraquezas do orgulho, e principalmente, não julgueis que vossas espadas de aço, vossos cavalos rápidos, como o vento, venceram os infiéis.
“Deus é Deus; só Deus é poderoso; Deus vos deu a vitória. Ele vos ordena que não vos detenhais numa carreira gloriosa na qual Ele mesmo vos leva pela mão.
“A guerra santa! A guerra santa! eis a mais certa das vossas adorações, o mais nobre dos vossos costumes.
“Cortai todos os ramos da impiedade, fazei o islamismo triunfar por toda a parte, libertai a terra das nações contra as quais Deus está irado”.
O chefe dos imanes rezou depois pelo califa de Bagdá, e terminando a oração, citando Saladino, exclamou:
“Ó Deus, velai pelos dias do vosso fiel servo, que é vossa espada afiadíssima, vossa estrela resplandecente, o defensor do vosso culto, o libertador da vossa morada santa. Deus! Fazei que seus anjos cerquem seu império e prolongai seus dias, para a glória do vosso nome.”
Assim, o povo, as leis, a religião, tudo estava mudado na infeliz Jerusalém. Enquanto nos santos lugares ressoavam hinos de culto estrangeiro, os cristãos afastavam-se tristemente, na mais profunda miséria e detestando a vida que os muçulmanos lhes haviam poupado.
Repelidos por seus irmãos do Oriente, que os acusavam de ter entregado o Santo Sepulcro aos infiéis, eles erravam pela Síria, sem socorro e sem asilo; muitos morreram de fome e de dor; a cidade de Trípoli fechou-lhes as portas.
No meio dessa multidão perdida, uma mulher levada pelo desespero atirou o filho ao mar, amaldiçoando a barbárie de seus irmãos cristãos.
Os que foram para o Egito sentiram-se menos infelizes e comoveram o coração dos muçulmanos: muitos embarcaram para a Europa, onde foram com gemidos, relatar as desgraças de Jerusalém.
Dizia-se então, entre os cristãos, que aquela cidade tinha caído como Nínive ou Babilônia: as crônicas contemporâneas, pelo menos, não explicam de outro modo esse fato, pois tudo então se explicava ou pela santidade ou pela corrupção dos fiéis.
Sem dúvida a corrupção concorreu para a decadência da Cidade Santa; todavia uma decadência tão rápida, teve várias outras causas que já foram indicadas no curso desta história.
Os impérios muçulmanos caíam quando os primeiros cruzados chegaram à Ásia; mas Deus permitiu que esses impérios se tornassem a erguer, sob a mão de vários príncipes poderosos, por suas armas e por seu gênio.
O reino de Godofredo, que os tinha vencido com trezentos cavaleiros, já não tinha o que era necessário para lhes resistir.
Os chefes que a providência lhes dera, pareciam unicamente mandados para anunciar que toda glória ia terminar.
À força de ver no trono de Davi, mulheres, crianças, reis doentes, príncipes fracos, não se teve mais fé em seu porvir, e o entusiasmo guerreiro e o patriotismo cristão foram sufocados pela discórdia e por não sei qual espírito de fatalidade.
Por fim ouviu-se até um rei da Cidade Santa exclamar no campo de batalha: O reino está perdido!
Foram suficientes algumas semanas para a realização dessa profecia, tão estranha na boca de um rei.
Acrescentamos aqui, e esta causa é a principal de todas, que o espírito das Cruzadas, que havia operado tantos prodígios, se vinha enfraquecendo há muito tempo, e com ele tudo o que ele havia fundado no Oriente.
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