Saladino ocupa a Cidade Santa – A perda de Jerusalém 3
O Outro Lado

Saladino ocupa a Cidade Santa – A perda de Jerusalém 3


Jerusalém medieval
Jerusalém medieval
Luis Dufaur




continuação do post anterior: Saladino intimidado pela determinação dos defensores

A Rainha de Jerusalém acompanhada pelos barões e cavaleiros, vinha depois dele; Saladino respeitou-lhe a dor e dirigiu-lhe palavras cheias de bondade.

A princesa era seguida de um grande número de mulheres, que levavam nos braços os filhinhos e que soltavam gritos lancinantes. Muitas delas aproximaram-se do trono de Saladino:

“Vedes aos vossos pés, disseram elas, as esposas, as mães, as filhas dos guerreiros que retendes prisioneiros. Deixamos para sempre nossa pátria, que eles defenderam com glória; eles nos ajudam a suportar a vida; se os perdermos, perderemos nossa última esperança.

“Se vos dignardes no-los restituir, eles aliviarão as misérias de nosso exílio e não ficaremos mais sem amparo sobre a terra.”



Saladino ficou comovido com suas lágrimas e prometeu aliviar os males de tantas famílias infelizes. Restituiu às mães, os filhos, às esposas, os maridos que estavam entre os escravos.

Vários cristãos tinham abandonado seus móveis e seus bens mais preciosos e levavam nos ombros, uns, os pais, abatidos pela idade, outros, os amigos enfermos e inválidos.

Comovido por esse espetáculo Saladino recompensou com donativos a virtude e a piedade de seus inimigos; sentindo piedade de todas as desgraças, ele permitiu aos hospitalários ficar na cidade, para cuidar dos peregrinos e de todos os que alguma doença grave impedia sair de Jerusalém.

Notemos aqui, que a generosidade de Saladino para com os cristãos é celebrada com mais brilho pelos historiadores latinos que pelos árabes; encontramos mesmo, nas crônicas muçulmanas, passagens, que provam que os discípulos de Maomé, não viam sem sentimento a nobre compaixão do sultão.

Mais de uma vez a história mostrou que nas guerras de religião os chefes nem sempre são senhores de usar da tolerância.

Quando os turcos começaram o cerco, a cidade tinha mais de cem mil cristãos. O maior número deles resgatou sua liberdade.

Balean de Ibelin, depositário dos tesouros para as despesas do cerco empregou-os em resgatar uma parte dos habitantes. Malek-Adhel, irmão do sultão, pagou o resgate de dois mil escravos.

Saladino seguiu seu exemplo, quebrando as cadeias de um grande número de órfãos e de pobres.

O historiador árabe Ibs-Alatir conta que um grande número de habitantes de Jerusalém escapou ao tributo, uns deslizando furtivamente do alto das muralhas por meio de cordas, outras comprando a peso de ouro, vestes de muçulmanos.

Ficaram na escravidão somente uns dezesseis mil cristãos, dentre os quais, havia de quatro a cinco mil crianças, em tenra idade, que não sentiam sua desgraça, mas das quais os fiéis mais deploravam a sorte, porque aquelas vítimas, inocentes da guerra, iam ser educadas na religião de Maomé.

Muitos escritores modernos opuseram ao proceder generoso de Saladino as cenas revoltantes que se seguiram à entrada dos cristãos em Jerusalém.

Não nos devemos, porém, esquecer de que os cristãos ofereceram a capitulação, enquanto os muçulmanos sustentaram um longo cerco, com constância e perseverança, e os companheiros de Godofredo que estavam num país desconhecido, no meio de nações inimigas, tomaram a cidade de assalto depois de terem experimentado mil perigos e sofrido todos os gêneros de miséria.

Os primeiros cruzados, depois da conquista da Cidade Santa, tudo tinham ainda a temer dos muçulmanos da Síria e do Egito e aquele temor os tornou bárbaros.

O sultão de Damasco não se mostrou mais humano enquanto teve a temer as armas dos francos e a vitória mesma de Tiberíades, que não acalmou todas as suas inquietações, não lhe havia inspirado sentimentos generosos para com seus prisioneiros.

Tanto é verdade que somente a força pode ser moderada; mas para isso é necessário que a força creia em si mesma. Se examinássemos bem todos os atos de barbárie cometidos pela política, encontraríamos quase sempre a fonte dos mesmos, no temor.

De resto, estas observações, entregues ao juízo dos leitores, não têm por fim justificar os excessos cometidos pelos guerreiros da primeira Cruzada, menos ainda, diminuir os elogios que a história deve a Saladino e que ele obteve daqueles mesmos por ele vencidos.

continua no próximo post: Islâmicos comemoram invasão



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