O Outro Lado
Godofredo de Bouillon, fundador do Reino Latino de Jerusalém
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Godofredo de Bouillon. Fundo: Porta de Damasco em Jerusalém. |
Quando Godofredo voltou a Jerusalém, soube que Balduino, conde de Edessa e Boemundo, príncipe de Antioquia, estavam em viagem para visitar os santos lugares.
Lembremo-nos de que esses dois chefes da primeira cruzada não tinham seguido seus irmãos de armas para a conquista da cidade santa.
Eles vinham a Jerusalém acompanhados de um grande número de cavaleiros e de soldados da cruz, que haviam ficado como eles para a defesa do país conquistado e se mostravam impacientes por terminar a peregrinação.
A esses ilustres guerreiros uniu-se uma multidão de cristãos, vindos da Itália e de várias regiões do Ocidente. Essa piedosa caravana que contava vinte e cinco mil peregrinos, muito teve que sofrer nas costas da Fenícia.
Mas quando viram Jerusalém, diz Foulcher de Chartres, que acompanhava Balduino, conde de Edessa, todas as misérias que tinham sofrido foram esquecidas.
A história contemporânea diz que Godofredo
“muito contente por receber seu irmão Balduino, homenageou magnificamente os príncipes durante lodo o inverno”. Daimbert, arcebispo de Pisa, tinha chegado com Balduino, conde de Edessa e Boemundo, príncipe de Antioquia; à força de presentes e de promessas, fez-se nomear patriarca de Jerusalém, no lugar de Arnould de Rohes.
Esse prelado, educado à escola de Gregório VII, sustentava com ardor as pretensões da Santa Sé.
Sua ambição não tardou a lançar a perturbação entre os cristãos, nos mesmos lugares onde Jesus Cristo tinha dito que seu reino não é deste mundo.
Aquele, que se proclamava seu vigário, quis reinar com Godofredo e pediu a soberania de uma parte de Jaffa e do bairro de Jerusalém chamado do Santo Sepulcro.
Depois de alguns debates, o piedoso Godofredo concedeu o que lhe pediam, em nome de Deus, e, se acreditarmos no testemunho de Guilherme de Tiro, o novo rei declarou, no dia da Páscoa, diante de todo o povo reunido no Santo Sepulcro, que a torre de Davi e a cidade de Jerusalém pertenceriam, em toda soberania à Igreja, se ele morresse sem posteridade.
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Godofredo de Bouillon, estátua equestre em Bruxelas. Fundo: deserto de Judá. |
O novo rei contava entre seus súditos, armênios, gregos, judeus, árabes, renegados de todas as religiões, aventureiros de todos os países.
O Estado confiado aos seus cuidados era como um lugar de passagem e tinha como guardas e defensores somente viajantes e estrangeiros.
Era o lugar de reunião de grandes pecadores, que para lá tinham ido, a fim de aplacar a cólera de Deus e o asilo dos criminosos que se esquivavam da justiça dos homens.
Uns e outros eram igualmente perigosos, quando as circunstâncias lhes despertavam as paixões e quando o temor ou o arrependimento davam lugar a novas tentações.
Godofredo, segundo o espírito dos costumes feudais e as leis da guerra, tinha distribuído as terras conquistadas aos companheiros de suas vitórias.
Os novos senhores de Jaffa, de Tiberíades, de Ramla, de Naplusa, mal reconheciam a autoridade real.
O clero, sustentado pelo exemplo do patriarca de Jerusalém, falava como senhor e os bispos exerciam, como os barões, um poder temporal.
Uns atribuíam a conquista do reino ao seu valor, outros, às suas orações; cada qual reclamava o prêmio de sua piedade ou de seus trabalhos; a maior parte pretendia o domínio; todos, a independência.
(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso, páginas 90 ss).
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