O Outro Lado
Balduíno I estabeleceu solidamente o reino franco de Jerusalém
Godofredo de Bouillon, primeiro rei de Jerusalém -- embora não quis portar o título, e ser tratado de Defensor do Santo Sepulcro -- faleceu pouco depois da tomada da Cidade Santa, enquanto consolidava a conquista. Nesse tempo, os turcos prepararm uma segunda anti-cruzada. Assim descreve os fatos o famoso historiador René Grousset:Balduíno I entra em EdessaMais uma vez, o atabeg de Mossul, Maudoud foi posto à cabeça das forças turcas.
Na primavera de 1111, o exército turco testou as muralhas de Edessa. Porém, elas tinham sido reforçadas por Balduíno I e era impossível tomá-las de assalto. Maudoud dirigiu-se contra o principado de Antioquia.
Os francos concentraram-se. Lado a lado, Balduíno I, rei de Jerusalém; Tancredo, príncipe de Antioquia; Balduíno du Bourg, conde de Edessa, e Bertrand, conde de Trípoli conduziam 16.000 cavaleiros, sargentos e ajudantes.
Diante de tropas francas de tal maneira unidas, Maudoud perdeu coragem e o grande exército turco voltou a travessar o Eufrates sem obter sucesso algum...
Tal resultado foi a obra própria de Balduíno I. A Síria franca, até então constituída por farrapos de território dependentes de aventuras individuais, desde a morte de Godofredo de Bouillon não possuía nenhum estatuto de conjunto, nenhuma coesão.
Foi Balduíno I que criou a Síria franca. Assumindo para isso, primeiro o título real, e depois as funções de rei, com todas as obrigações que o título e a função comportavam, prestando a seus vassalos sem cessar os serviços do suserano feudal, lhes impondo a união face ao inimigo.
Eleição e coroação de Balduíno I
A campanha de 1111 patenteou que ele era o chefe incontestado, o federador das energias francas.
Desde então até 1186 a Síria franca formou um todo solidário, a despeito da partilha feudal. As instituições fundadas pelo gênio do primeiro Balduíno garantiram ao país 86 anos de estabilidade.
A Síria franca encontrou seus capetíngios.
Balduíno de Boulogne, o primeiro rei franco de Jerusalém liberada por certo não foi um santo como seu irmão Godofredo de Bouillon.
Mas, do ponto de vista político foi o homem necessário, entalhado na medida certa exigida pela epopéia. Pois só ele, único entre todos esses paladinos, soube integralmente conduzir a epopéia.
Nele, o aventureiro sem escrúpulos deixou naturalmente lugar ao homem de Estado. Violência ou paciência, ímpeto ou cautela, todos esses elementos de uma densa personalidade nele ficaram controlados e dominados pela razão de Estado.
Os antigos gregos o teriam cognominado Balduíno o Fundador. Pois, o estado franco de Jerusalém, nascido de uma surpresa, por obra dele encontrou-se, de um dia a outro, estabelecido tão solidamente que ninguém ousou contestá-lo.
Morte de Balduíno I Posta aquela iniciativa extrema da Cristandade que foi a I Cruzada ele construiu a única coisa que podia ser feita para continuasse viável: uma sólida monarquia militar.
Qualquer que tenha sido a liberdade de seus costumes, ele irradiava majestade. Ele fundou uma legitimidade de direito divino ‒ a mais sagrada do mundo cristão! ‒ criando uma ponte com a realeza de David e de Salomão.
Em dezoito anos de reinado ele ditou os fundamentos de uma tradição monárquica igual ‒ porque fundada no rochedo de Sion ‒ à dos Capetos, do reino Anglo-Normando ou do imperador do Sacro Império Romano Alemão.
Toda a história posterior do reino de Jerusalém é fruto de sua obra.
(Fonte: René Grousset, “L’epopée des croisades”, Perrin, Paris, 2002, cap. IV)
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