O Outro Lado
Os Papas convocam à reconquista da Cidade Santa – A perda de Jerusalém 5
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São Bernardo de Claraval foi o ardoroso pregador da retomada das Cruzadas. Philippe de Champaigne, Saint-Etienne du Mont |
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Luis Dufaur
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continuação do post anterior: Islâmicos comemoram invasãoO reino de Godofredo de Bouillon extinguiu-se, semelhante às frágeis criaturas deste mundo, que desaparecem de todo, quando Deus não vela mais por elas.
No entretanto, como então se estava persuadido de que a salvação da fé cristã e de que a mesma glória de Deus estavam ligadas à conservação de Jerusalém, a última conquista de Saladino, espalhou a consternação em todo o Ocidente.
A notícia chegou primeiro à Itália; o Papa Urbano III, que então estava em Ferrara, ficou tomado de profunda dor, e não sobreviveu a tão grande calamidade.
Todos os cristãos, esquecendo-se das próprias misérias só tiveram um único motivo de aflição e o nome da Cidade Santa voava de boca em boca, com gritos de desespero.
Deplorava-se em lúgubres cânticos o cativeiro do Rei de Jerusalém e de seus cavaleiros, a ruína das cidades cristãs do Oriente.
Padres levavam de cidade em cidade algumas imagens onde se via o Santo Sepulcro calcado sob as patas de cavalos e Jesus Cristo derrubado por Maomé.
Tão grandes desgraças tinham sido anunciadas ao mundo cristão por presságios sinistros. No dia em que Saladino entrara na Cidade Santa, diz Rigord, os monges de Argenteuil tinham visto a lua descer do céu para a terra e subir novamente para o céu.
Em várias igrejas, o crucifixo e várias imagens de santos tinham derramado lágrimas de sangue na presença de todos os fiéis.
Um cavaleiro cristão tinha visto em sonho uma águia que tinha nas garras sete dardos, voando por cima de um exército, proferia estas palavras, com acentos de cólera terrível: Ai de Jerusalém!
Todos se acusavam de ter: com suas faltas, excitado a vingança do céu. Todos os fiéis procuravam aplacar com a penitência a Deus que eles julgavam irritado.
“O Senhor, diziam entre si, espalhou por toda a parte a onda de sua cólera e as flechas da sua ira embeberam-se no sangue dos seus servos, Que toda a nossa vida seja um contínuo sofrimento, porque ouvimos uma voz que gemia na montanha de Sião e os filhos de Deus foram dispersos.”
Os oradores sacros dirigiam-se a Deus e faziam ressoar nas igrejas suas invocações e preces.
“Deus Todo-poderoso! exclamavam, vossa mão armou-se para o triunfo da justiça! Nós viemos com os olhos cheios de lágrimas, implorar vossa bondade, para que vos lembreis dos vossos servos e vossas misericórdias sobrepujem as nossas misérias; não entregareis a vossa herança ao opróbrio, e que os anjos da paz obtenham para Jerusalém os frutos da penitência.”
Chorando a perda do túmulo de Jesus Cristo, lembraram-se dos preceitos do Evangelho e os homens se tornaram melhores. O luxo foi banido das cidades, esqueciam-se as injúrias, davam-se esmolas.
Os cristãos dormiam na cinza e cingiam-se com o
silício; expiavam com o jejum e as mortificações sua vida desregrada. O clero deu exemplo, os costumes claustrais foram reformados, os cardeais condenaram-se à pobreza dos apóstolos e prometeram ir à Terra Santa, pedindo esmolas.
1188: estas piedosas reformas não duraram muito tempo, mas os espíritos prepararam-se não menos para uma nova Cruzada e toda a Europa ergueu-se à voz de Gregório VIII, que exortou os fiéis a tomar a cruz e as armas.
Em sua bula, o pontífice fala dos temíveis juízos de Deus e lamenta as desgraças de Jerusalém, que é agora apenas um deserto, onde os corpos dos santos serviram de pasto aos animais da terra e às aves do céu; narra as vitórias de Saladino, que foi secundado pelas discórdias dos habitantes da Terra Santa e pela maldade dos homens.
Em tão grande desastre, ninguém podia reter as lágrimas, ninguém podia resistir não somente à compaixão recomendada pela religião, para com todas as desgraças, mas ao sentimento que a providência pôs no coração dos homens.
A língua não poderia explicar, o espírito não poderia compreender a aflição do soberano pontífice e também a aflição do povo cristão, sabendo que a terra da promissão, sofre agora, o que sofreu por obra de antigos tiranos.
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Gregório VIII |
“Nós, principalmente, diz Gregório, que temos que gemer ante as iniquidades, que acenderam a cólera de Deus, nós que tememos que outras desgraças aconteçam na Judéia, no meio das dissensões dos reis e dos príncipes cristãos, entre cidades e aldeias, devemos chorar com o profeta e repetir com ele: A verdade, a ciência de Deus, não estão mais nesta terra; e veio reinar em seu lugar a mentira, o homicídio, o adultério e a sede do sangue.
“Pensai, meus caros irmãos, para que viestes a este mundo e como deveis dele sair, Pensai que passais como passam todas as coisas. Não podeis dizer dos bens de que gozais, do ar mesmo que nos conserva a vida: ‘Isto é meu!’
“Não vos fizestes a vós mesmos e o poder de criar um nada está acima de todos os poderes da terra.
“Daí então todos esses tesouros, que vos podem escapar, esta vida que não é mais que um ponto na duração, para socorrer vossos irmãos, para vos garantirdes a eterna salvação.
“Se os infiéis enfrentaram os perigos da guerra, se eles sacrificaram o descanso e as delícias de seus dias para atacar a herança de Jesus Cristo, hesitareis em fazer os mesmos sacrifícios pela fé cristã?
“A cólera celeste permitiu que os ímpios tivessem um momento de triunfo, mas sua misericórdia pode trocar para eles os dias da vitória em dias de humilhação.
“Entregai-vos pois à misericórdia divina, não temos o direito de pedir contas a Deus de seus juízos, mas não devemos crer que na sua bondade Ele quer nossa salvação e que aquele que se sacrifica por seus irmãos mesmo quando tivesse apenas chegado aos dias da juventude, será tratado como aquele que passou uma vida longa no serviço de Deus?”
Regras para a Cruzada terminavam a bula de Gregório VIII. O papa prometia aos piedosos peregrinos o perdão completo de seus pecados, a viagem santa devia serrara eles uma completa penitência.
Os bens dos cruzados e suas famílias ficavam colocados sob a proteção especial dos arcebispos e dos bispos.
Nenhuma indagação devia ser feita sobre a validez dos direitos de posse de um cruzado com relação a um bem qualquer, até que se estivesse certo de sua volta ou de sua morte.
Os peregrinos estavam dispensados de pagar juros a um credor, durante os dias passados sob o estandarte da cruz. Era-lhes proibido vestir-se com luxo e levar cães ou aves.
Depois destas regras, vinha a ordem de um jejum geral, para aplacar a cólera de Deus e obter a libertação de Jerusalém. O jejum da quaresma devia ser observado todas as sextas-feiras durante cinco anos. A bula, as determinações e o decreto estavam datados de Ferrara.
O soberano Pontífice pensava restabelecer a paz entre os povos cristãos. Com essa intenção, ele foi a Pisa, para pôr um fim a vivas dissensões que ali se haviam originado entre os pisanos e os genoveses.
Gregório morreu antes de terminar a obra começada e deixou a direção da Cruzada a seu sucessor, Clemente III, que desde a sua ascensão ao trono pontifício, ordenou orações pela paz do Ocidente e pela libertação da terra dos peregrinos.
(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso)
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