O Outro Lado
Proezas portuguesas contra os mouros
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Dom Afonso II, rei de Portugal |
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Luis Dufaur
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No tempo de el-rei Afonso II foram vencidos em Salácia (Alcácer do Sal) mais de 60.000 mouros.
E na célebre batalha do Salado, em que el-rei D. Afonso IV de Portugal ajudou nervosamente a el-rei de Castela, morreram 200.000, pelo cômputo mais escasso.
Reinando D. Afonso V, cercou el-rei de Fez a Alcácer Ceguere, com 30.000 cavalos e inumeráveis de pé, mas saindo de dentro pouco mais de 30 cavaleiros portugueses, mataram tantos que os outros, com medo, levantaram o cerco.
A mesma felicidade se viu na tomada de Ceuta em tempo de el-rei Dom João I, e nas de Arzila e Tânger em tempo do dito D. Afonso V, e nos famosos sítios que sustentaram nossos capitães nestas praças, e na de Mozagão, e nas de Diu, Calecute, Chaul, Columbo, Cananor, Cochim, Malaca, contra mui poderosos inimigos.
No cerco de Diu, que sustentou o grande capitão Antônio da Silveira, sendo Fernão Penteado ferido gravemente na cabeça, foi ao cirurgião para que o curasse.
E achando-o ocupado na cura de outros, enquanto aguardava a sua vez, ouviu estrondo de um rebate que os turcos davam.
Não lhe sofrendo o coração não se achar nele, correu àquela parte onde, envolvido na refrega, ganhou segunda ferida grave na cabeça.
Com que apertado, tornou ao cirurgião, a quem achou ainda mais ocupado que antes.
E como neste tempo os turcos apertassem muito com os nossos, ele tornou a acudir com grande alvoroço, onde recebeu terceira cutilada no braço direito; e veio curar-se de todas três.
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Dom Afonso IV, rei de Portugal |
De sorte que assim ia este soldado buscar mais feridas, como se, achando o cirurgião ocioso, quisesse dar-lhe em que se ocupar, e mais falta fazia ao seu natural a briga do que à sua cabeça o sangue, querendo antes ferir-se depressa do que curar-se devagar.
A tarântula, ainda depois de esmagada, salta, se lhe tangem; este animoso guerreiro, ainda rota a cabeça, pulava se ouvia estrondos militares, porque eram música para ele.
No mesmo cerco, outro português, cujo nome se lhe não sabe, acabando-se-lhe as balas e não tendo à mão com que carregar o mosquete, abalou e arrancou um dente.
Usando-o como bala, fez o tiro e acertou em um turco, para o qual não foi favo doce, senão bocado amargoso, isto que saiu da boca deste leão.
Adaptara na boca do mosquete o dente da sua, mandando-lhe que mordesse ao longe, já que não podia de perto.
Outros muitos casos semelhantes omito, porque ao meu intuito bastam os referidos.
Agora o que esperamos é que a última e total ruína do império otomano se deva também, por eleição divina, às armas portuguesas, conforme os mesmos mouros temem e se diz terem disso tradição antiga (Veja-se Sebastião de Paiva, na sua "Monarquia").
(Autor: Padre Manuel Bernardes, "Nova Floresta" - Lello & Irmão, Porto, 1949)
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