As armas portuguesas contra os maometanos
O Outro Lado

As armas portuguesas contra os maometanos


Dom Afonso Henriques
Desde os berços desta monarquia abonaram os efeitos essa verdade. Só o Conde D. Henrique, nobilíssimo tronco da real árvore dos monarcas portugueses, venceu contra mouros 17 batalhas campais.

Na célebre do campo de Ourique, venceu e destroçou el-rei D. Afonso Henriques, com 10.000 infantes e 1.000 cavalos, a 400.000 maometanos, isto pelo cômputo de quem mais abate este número, que outros o sobem a 600.000, e outros dizem que havia para cada cristão cem infiéis.

Na tomada de Lisboa (que foi no ano de Cristo 1148, a 25 de outubro), morreram 200.000 mouros. O mesmo rei desbaratou um exército de 40.000 cavalos e 60.000 infantes, com que el-rei mouro de Badajoz vinha socorrer Sesimbra.

E em diversas ocasiões ele a 30 reis venceu (para que não fosse singular nesta glória o famoso Josué, capitão do povo de Deus). Nem podemos atribuir estas vitórias à pouca gente dos exércitos contrários, porque, compensando uns com outros, lhe tocam a cada um 50.000 homens.



Para que mais particularmente conste que parece que Deus criou a nação portuguesa para estrago, desprezo e ralé da sarracena, quero referir aqui alguns casos que dentro das mesmas ferocidades de Marte descobrem um não sei quê de cômica graciosidade.

Milagre de OuriqueNa batalha que D. Francisco de Menses, capitão de Baçaim, venceu contra um poderoso campo do Nizamora, um certo Trancoso, depois de haver bem pelejado, pôde alcançar com um braço a um mouro pela petrina (que era um cinto que usavam, de muitas voltas). Como era agigantado de membros e fiava de suas forças, levantou-o no ar como escudo, e se lançou entre os mouros, matando muitos a seu salvo.

Os golpes que lhe atiravam, recebia com destreza no miserável corpo do agarrado, o qual era juntamente seu inimigo de vontade e seu protetor contra vontade, porque o braço a que servia de escudo lhe dava tantas cutiladas quantas fazia que aparasse.

Com o que assim este mouro, como os mais que se chegaram, eram todos em ajuda de Trancoso: este, porque o defendia dos mais; e os mais porque, dando neste, lhe escusavam este trabalho. Raro modo de fazer do couro alheio couraça própria!

Lá dizia uma valorosa matrona lacena, embraçando o escudo a seu filho que partia para a guerra: "Vede que ou haveis de tornar vivo com este, ou morto sobre ele". No nosso caso, pouco se lhe dava ao Trancoso de deixar na refrega o escudo; antes, quanto mais lho rachassem, tanto mais folgado e contente se recolheria.
Conquista de CeutaEm Ceuta, indo D. Afonso da Cunha, em certo recontro, atrás de um mouro, ao atirar-lhe uma cutilada, lhe resvalou a espada e saltou fora da mão; mas, em vez de assustar-se com o caso, tomou maior cólera e gritou ao mouro: "Ó cão, levanta e traze aqui logo".

E o mouro, temendo que, se não obedecesse, tinha a morte mais certa, voltou humilde, levantou do chão a espada e lha entregou. E o Cunha então, compadecido, o deixou ir livre. De sorte que este português usava daquele mouro como de inimigo para o recontro belicoso, como de escravo para o mando senhoril, e como de liberto para a manumissão fácil. Ou fazia conta que aquele infiel era juntamente caça e cão: caça para correr perseguindo-a, e cão para lhe trazer o que caísse.

Ao cão chamou S. Gregório Nisseno espada viva do homem — Hominis gladium vivum. Como aqui o cristão era o homem e o mouro o cão, no cão achou o homem à mão uma espada viva que lhe trouxesse a sua inanimada.

(Fonte: Padre Manuel Bernardes, "Nova Floresta" - Lello & Irmão, Porto, 1949)

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