O Outro Lado
Cruzados quase perdem a cidade de Ascalon que praticamente tinham conquistado
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Mapa político do Próximo Oriente em 1135 com os estados cruzados |
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Luis Dufaur
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Os latinos, muitas vezes dirigiram seus exércitos contra Ascalon, o baluarte mais firme do Egito, do lado da Síria.
O rei Balduino III, seguido por seus cavaleiros, se havia dirigido àquele lugar, com a intenção de devastar seu território. A aproximação dos cristãos suscitou o terror entre os habitantes, o que inspirou ao rei de Jerusalém a determinação de sitiar a cidade.
Mandou imediatamente mensageiros a todas as cidades cristãs, comunicando sua empresa, inspirada por Deus e rogando aos guerreiros que se reunissem ao exército.
Barões e cavaleiros acorreram imediatamente; os prelados e os bispos da Judéia e da Fenícia, vieram também tomar parte na santa expedição; o patriarca de Jerusalém ia-lhes à frente, levando a verdadeira cruz de Jesus Cristo.
A cidade de Ascalon erguia-se em círculo à beira-mar e tinha do lado da terra, muralhas e torres inexpugnáveis; todos os habitantes estavam exercitados na arte da guerra, e o Egito, que tinha grande interesse na conservação daquela praça, para lá mandava quatro vezes por ano, víveres, armas e soldados.
Enquanto o exército cristão atacava as muralhas da cidade, uma frota de quinze navios com esporões, comandada por Geraldo de Sidon, secundava os esforços dos companheiros.
A abundância reinava no acampamento dos cristãos; a disciplina era severamente observada, vigiava-se dia e noite.
A vigilância não era menor entre os sitiados; os chefes não deixavam as muralhas, encorajando sem cessar os soldados; e, para que a cidade não fosse atacada no meio das trevas, lanternas de vidro suspensas nas amei as das torres, mais elevadas, difundiam, durante a noite, uma luz semelhante à do dia.
O cerco durou dois meses, quando, nas proximidades da festa da Páscoa, desembarcou nos portos de Tolemaida e de Joppé um grande número de peregrinos do Ocidente.
Os chefes do exército reuniram-se e determinaram que os navios chegados da Europa, seriam retirados por ordem do rei e que se convidariam os peregrinos a vir ajudar seus irmãos no cerco de Ascalon.
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Balduino III
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Uma multidão dos recém-chegados, correspondeu às esperanças que se depositavam na sua piedade e na sua bravura e acorreu ao acampamento dos cristãos; vários navios prepararam-se também sob o comando de Geraldo de Sidon.
Todo o exército exultou de alegria à sua chegada. Então, não se duvidou mais da vitória.
Construíram, com madeira tirada dos navios, um grande número de máquinas e dentre outras, uma torre rolante, de grande altura, semelhante a uma fortaleza com sua guarnição.
Empurrada para junto das muralhas, causou espantosos prejuízos à cidade. Todas as máquinas trabalhavam ao mesmo tempo, umas atirando pedras, outras derrubando as muralhas; os assaltos, os combates sanguinolentos, renovavam-se sem cessar.
Havia-se passado cinco meses desde o princípio do cerco e as forças do inimigo estavam enfraquecendo, quando uma frota egípcia de setenta navios, entrou no porto de Ascalon, trazendo reforços e todos os socorros de que a cidade necessitava.
A coragem dos sitiados reanimou-se com seu número; no entanto, o ardor dos cristãos não arrefecia, seus ataques eram mais frequentes e mais violentos; sua torre móvel, que nada podia atingir, espalhava todos os dias mais terror entre os infiéis.
Por fim, estes determinaram destruir aquela máquina formidável; lançaram entre a torre e a muralha uma grande quantidade de madeira, sobre a qual puseram óleo, enxofre e outras matérias combustíveis; em seguida atearam-lhe fogo.
Mas o vento, que vinha do Oriente, em vez de levar as chamas contra a torre, atirou-as contra a cidade; o incêndio durou todo o dia e toda a noite e como o vento não mudou de direção, as pedras das muralhas ficaram calcinadas pelo fogo.
No dia seguinte, ao raiar da aurora, o muro inteiro caiu com enorme fracasso; os guerreiros cristãos acorreram ao barulho, levando, porém, suas armas; Ascalon ia, por fim, cair em seu poder: um incidente singular veio, no entanto privá-las da vitória.
Os templários já tinham entrado na praça e, para sozinhos se apoderarem dos despojos do inimigo, haviam postado sentinelas na brecha, encarregadas de afastar todos os que se apresentassem para segui-las.
Enquanto eles se espalhavam pelas ruas e saqueavam as casas, os inimigos perceberam-lhes o pequeno número, admirando-se ter fugido.
Os soldados e os habitantes reúnem-se, voltam à luta e os templários dispersos, caem sob os golpes dos adversários, ou fogem pela brecha, cuja passagem haviam interditado aos companheiros de armas.
Perdendo a esperança de se apoderar da cidade, oprimidos pelos muçulmanos, que um ardor novo animava, os cristãos retiraram-se tristes e confusos, para seu acampamento.
O Rei de Jerusalém convocou imediatamente os prelados e os barões e perguntou-lhes com voz comovida, que partido se deveria tomar em tão triste conjuntura.
Ele, bem como os principais chefes dos guerreiros, perderam a esperança da conquista de Ascalon, e propunha abandonar o cerco.
O patriarca e os bispos, cheios de confiança na divina bondade, opunham-se à retirada, e, para firmar sua opinião, invocavam as passagens da Escritura, nas quais Deus promete socorrer os que combatem e sofrem por sua causa.
A opinião do patriarca e dos prelados prevaleceu em seu conselho e prepararam-se então novos ataques; no dia seguinte o exército cristão apareceu de novo ante as muralhas, excitado pelas exortações dos padres e pela presença da verdadeira cruz.
Durante todo o dia, combateu-se de ambos os lados com igual ardor; mas as perdas dos muçulmanos foram mais que as dos cristãos; pediam tréguas, para sepultar os mortos.
Vendo o grande número de guerreiros que tinham perdido, os infiéis desanimaram, novamente; o aspecto das muralhas caídas, aumentava-lhes a tristeza; boatos sinistros, vindos do Cairo, não lhes davam mais esperanças de socorro da parte do califa do Egito.
De repente todo o povo rompeu numa gritaria tumultuosa; pedia em grandes gritos que se pusesse um fim àquela guerra.
“Homens de Ascalon, exclamavam aqueles cuja multidão desesperada parecia invocar as autoridades em seu socorro, nossos pais morreram combatendo os francos, seus filhos por sua vez, morreram, também, sem esperanças de vencer uma nação de erro.
“As areias inúteis deste mar e essas ruínas que nos deram para defender nos mostram por toda a parte, fúnebres imagens; essas muralhas, elevadas no meio das províncias cristãs, são para nós como sepulcros, numa terra estrangeira.
“Voltemos ao Egito, deixemos aos inimigos uma cidade que Deus feriu com sua maldição”.
A multidão chorando aplaudiu estas palavras e ninguém mais quis pegar em armas; os enviados foram escolhidos para ir ao acampamento dos cristãos e propor ao Rei de Jerusalém, a capitulação.
Ofereciam-se para abrir aos cristãos as portas da cidade, com a única condição de que os habitantes teriam a possibilidade de se retirar, dentro de três dias com suas bagagens e seus bens.
Enquanto os sitiados tomavam uma resolução ditada pelo desespero, a lembrança dos últimos combates espalhava ainda a tristeza e o luto no exército cristão.
Os enviados vieram ao acampamento, sem que se pudesse suspeitar do objetivo de sua missão. Foram levados à presença dos chefes, e numa atitude suplicante, comunicaram a capitulação determinada.
A essa notícia inesperada, todo o conselho ficou quase fora de si de estupefação, tanto que, quando se perguntou aos barões e aos prelados a sua opinião, nenhum deles teve palavras para responder e todos se puseram a agradecer a Deus, derramando lágrimas de alegria.
Poucos dias depois, o estandarte da cruz flutuava sobre as muralhas de Ascalon e o exército aplaudia com gritos de júbilo uma vitória que considerava como um milagre do céu.
Os muçulmanos abandonaram a cidade antes do terceiro dia: os cristãos tomaram posse da mesma e consagraram a grande mesquita ao apóstolo São Paulo.
A conquista de Ascalon oferecia-lhes imensa vantagem, porque lhes abria o caminho para o Egito e fechava aos egípcios a passagem para a Palestina.
(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso, páginas 332-343)
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