O Outro Lado
A conquista de Arsur e Cesaréia
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Cruz do Reino Latino de Jerusalém. |
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Luis Dufaur
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Esta aparição do fogo sagrado era um bom augúrio para a expedição que se preparava. Depois das festas de Páscoa, os genoveses regressaram aos navios.
Por seu lado, Balduino reuniu os guerreiros. Foram em seguida sitiar Arsur; os habitantes propuseram abandonar a cidade e se retirar com suas riquezas. A capitulação foi aceita.
Os cristãos foram em seguida sitiar Cesaréia, cidade florescente e habitada por ricos comerciantes. Caffaro, historiador genovês, presente a essa expedição, nos dá a conhecer as singulares tentativas que precederam o ataque dos cruzados.
Os embaixadores da cidade dirigiram-se ao patriarca e aos chefes do exército:
“Vós que sois doutores da lei cristã, disseram, porque ordenais aos vossos soldados que nos assaltem e nos matem? Nós não vos queremos assaltar, respondeu o patriarca, mas essa cidade não vos pertence; não vos queremos também matar, mas a vingança divina nos escolheu para punir os que se armaram contra a lei do Senhor”.
Depois desta resposta, que não podia trazer a paz, os infiéis só pensaram em se defender. Resistiram com alguma coragem aos primeiros assaltos, mas, como não estavam acostumados aos perigos e às fadigas da guerra, seu ardor logo começou a declinar e depois de duas semanas de cerco, suas torres e suas muralhas foram ficando desertas, sem combatentes e defensores.
Os cristãos perceberam-no, redobraram a coragem e seu valor impaciente não esperou a construção de máquinas para dar o assalto geral.
No décimo quinto dia do cerco os soldados da cruz recebem a absolvição de seus pecados; o patriarca, revestido de uma sobrepeliz branca, levando a verdadeira cruz, exorta-os a combater valentemente.
O sinal é dado; os cristãos correm às muralhas, colocam as escadas; as torres são invadidas, os habitantes, tomados de terror, fogem em desordem; uns procuram a salvação nos templos, outros fogem para longe; nenhum deles pode evitar a morte; a espada do vencedor mal poupa as mulheres e as crianças de pouca idade.
Nesse extermínio geral, o cádi e o emir foram os únicos que acharam misericórdia, porque deles se esperava um grande resgate.
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Ruínas de Arsur |
Os soldados vendiam uns aos outros as mulheres que tinham aprisionado e que destinavam a fazer mover o moinho de mão. A sede do saque animava de tal modo os cristãos que eles abriam o ventre aos muçulmanos quando suspeitavam terem eles engolido moedas de ouro.
Uma grande quantidade de cadáveres foi queimada em praça pública. Julgavam mesmo encontrar moedas no meio das cinzas.
Estas cenas terríveis não revoltaram os cronistas, que delas foram testemunhas; um deles nos apresenta essa população que se massacrava sem piedade, como um povo celerado e perverso que merecia a morte.
Guilherme de Tiro, sem condenar esses excessos de barbárie, contenta-se em notar que o povo cristão que até aquela época vivera pobre e privado de tudo, de nada mais teve necessidade.
Os genoveses vangloriavam-se de ter tido como parte nos despojos, o vaso que serviu para a ceia de Jesus Cristo; esse vaso de esmeralda ficou muito tempo na catedral de Genova; pelo fim do século XVIII e durante a guerra da Itália, essa preciosa relíquia foi levada a Paris, mas depois foi restituída aos genoveses no ano de 1815.
Depois da tomada de Cesaréia os cristãos lá deixaram um arcebispo, que elegeram em comum. O eclesiástico sobre o qual caiu a escolha era um pobre sacerdote que viera ao Oriente, com os primeiros cruzados.
Guibert, abade de Nogent, conta desse pobre padre, chamado Balduino, um fato muito singular. Como ele não tinha com que pagar as despesas da peregrinação, ele fizera na fronte uma incisão bem forte em forma de cruz e se alimentava com ervas. Aquela chaga que todos julgavam milagrosa garantiu-lhe durante toda a viagem, muitas esmolas.
(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso, páginas 90 ss).
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