A cidade santa profanada inspira a Cruzada
O Outro Lado

A cidade santa profanada inspira a Cruzada


Califa Ali Ben Hamet, Theodore Chasseriau (1819 – 1856)
continuação do post anterior

Omar, sucessor do Profeta, imediatamente edificou uma mesquita no lugar aonde estava levantado o templo de Salomão. Não atormentando, contudo, os cristãos.

Somente após sua morte, em 644, que as ignomínias e as espoliações vieram experimentá-los; os peregrinos foram obrigados a pagar um tributo para ter o direito de se prosternar no Calvário.

O tributo que se exigia dos peregrinos na entrada da cidade santa, inicialmente leve, logo tornou-se pesado, e aqueles fiéis que guardavam os lugares santos caíram rapidamente sob uma tirania odiosa.

Carlos Magno se encontrava bastante ocupado, assim como foram Carlos Martel e Pepino, com suas guerras contras os frísios e os saxões, guerras que eram verdadeiras cruzadas, mesmo que esse nome não tivesse ainda sido cunhado.

Carlos Magno envia então ao califa Haroun-al-Raschid, o chefe supremo do islamismo em Bagdá, um embaixador encarregado de reclamar a liberdade dos cristãos.

Haroun, antipático aos heróis do Ocidente, como dizem os historiadores, pois ele admirava somente a si mesmo, contudo, temendo os exércitos do grande chefe dos francos, cujo renome já havia chegado até ele (visto em uma carta de Silvestre II) [Gerberti Epist. 107].


Silvestre II exorcizando o diabo.
Esse Papa pensava na Cruzada.
Cod Pal germ 137 f216v.
Vemos aí que o Papa Silvestre II foi o primeiro predicador da Cruzada, um século antes de Pedro, o Eremita.], lhe enviou, com pompa, entre presentes raros, as chaves do santo Sepulcro e da cidade de Jerusalém, prometendo-lhe solenemente guardar sob sua proteção todos os peregrinos da Palestina.

Desde então, ao menos durante alguns anos, sob o reino dos califas de Bagdá e dos sultões do Cairo, os filhos de Cristo puderam entrar nos lugares santos.

Eles retomaram aí, enquanto desfrutavam de alguns dias de paz, um piedoso exercício que vários acreditaram ser novo, mas que remontava aos primeiros dias da Igreja: o caminho da Cruz.

Ao exemplo da Santíssima Virgem e dos primeiros discípulos, os fiéis praticaram ali esta devoção que se mantém até hoje.

Nas relações do século X, encontram-se detalhes que mencionam na Via Crucis mais estações do que aquelas que nós fazemos.

Assim, em Jerusalém há estações: no Cenáculo;

na casa da santa Virgem; na casa de Caifás;

na casa de Anás, o Pontífice;


no lugar aonde Nosso Senhor saudou as três Marias;

no pretório de Pilatos; na arcada do "Ecce Homo";

no lugar aonde Pilatos abandonou Nosso Senhor aos judeus;

na coluna da Flagelação; na coluna do Opróbrio, aonde Nosso Senhor foi coroado de espinhos, coberto com um retalho púrpura e golpeado com uma cana;

no lugar aonde Ele foi vigiado pelos soldados;

no lugar aonde Ele foi carregado de sua Cruz;

na capela do Espasmo, que é o lugar aonde a Santíssima Virgem viu seu divino Filho cair pela primeira vez;

no lugar aonde Ele falou às filhas de Jerusalém; no lugar aonde Ele foi ajudado por Simão de Cirineu;

no lugar aonde Ele caiu pela segunda vez; no lugar aonde a santa mulher enxuga seu rosto com um véu;

nos lugares aonde as vestes de Nosso Senhor foram jogadas e compartilhadas;

aonde Ele foi pregado sobre a Cruz; no lugar aonde Ele foi levantado na Cruz;

no lugar aonde estava o soldado que lhe fere o lado com um golpe de lança;

na pedra sobre a qual Ele foi depositado morto;

no santo Sepulcro;

no lugar aonde, após a ressurreição, Ele aparece à sua santa Mãe, depois à Maria Madalena.

O caminho da Via dolorosa tem 730 passos

Há, ainda, para os peregrinos da terra santa, somente em Jerusalém, estações:

na montanha da Ascensão;

no lugar aonde Nosso Senhor fez sua oração após a Cena;

no lugar aonde dormiram os três discípulos que o acompanhavam;

no vilarejo de Getsemani, aonde Ele tinha deixado os outros;

no lugar aonde Ele foi preso;

na torrente de Cédron aonde Ele deixou quatro marcas de seus pés;

na gruta aonde São Pedro chorou seu pecado;

na igreja de São Marcos, edificada no lugar aonde os fiéis oravam por São Pedro;

no lugar aonde Santo Estevão foi apedrejado;

no sepulcro vazio da Santíssima Virgem; no lugar vizinho aonde ela apareceu para São Tomé;

enfim, na capela aonde Santa Helena se retirava para rezar, durante sua estadia em Jerusalém.

Uma outra devoção, que nós cremos também nova, embora fosse praticada por Santa Gertrudes, por São Bernardo, por São Boaventura e por uma multidão de outros santos, é o culto do Sagrado Coração de Jesus.

Os fiéis que adoravam a cabeça coroada de espinhos, os pés e as mãos furados com os pregos, adoravam, também, o coração adorável, especialmente na estação do golpe de lança.

(Autor: J. Collin de Plancy. “Légendes des Croisades depuis les premiers temps jusqu'a nos jours”, Henri Plon, Paris).

continua no próximo post




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