O Beato Eugênio III Papa convoca a II Cruzada
O Outro Lado

O Beato Eugênio III Papa convoca a II Cruzada


Beato Eugênio III Papa, convocou a II Cruzada
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Em 1146, o principado de Edessa, dominado pelos cruzados, caiu em mãos dos muçulmanos ressurgentes. Assim, o Bem-Aventurado Papa Eugênio III apelou a uma nova cruzada - a segunda. Foi entusiasticamente apoiado nesta convocação por seu mentor, São Bernardo de Claraval.

O Bem-aventurado Pontífice redigiu para esse efeito a Bula “Quantum predecessores”, de 1º de dezembro de 1154, que diz:

O Bispo Eugênio, servo dos servos de Deus, a Luis, seu filho mais amado em Cristo, ilustre rei dos franceses; aos príncipes, seus filhos bem amados, e a todos os fiéis de Deus estabelecidos por toda a Gália, saudação e bênção apostólica.

Sabemos pelas narrações dos antigos e por seus escritos quanto os romanos pontífices, Nossos antecessores, fizeram pela libertação da Igreja no Oriente. Nosso predecessor de venerada memória, o Papa Urbano, soou como que uma trombeta celeste a fim de levantar, para a sua libertação, os filhos da Santa Igreja Romana em todos os cantos da terra.



É verdade que à sua voz os ultramontanos, e especialmente os mais bravos e fortes guerreiros do reino francês, bem como os da Itália, inflamados com ardente amor, uniram-se num mui grande exército e, não sem grande derramamento do seu próprio sangue, com divino auxílio libertaram da sujeira dos pagãos a cidade em que nosso Salvador quis sofrer por nós e onde nos deixou seu glorioso sepulcro como memorial de sua Paixão, além de muitos outros que, por amor à brevidade, abstemo-nos de mencionar.

Essas cidades, pela graça de Deus, e do zelo de vossos pais, que de tempos em tempos têm se esforçado na medida do possível para defendê-las e divulgar o nome de Cristo naquelas partes, foram mantidas pelos cristãos até hoje; e eles tem corajosamente invadido outras cidades dos infiéis. Agora, porém, por causa de nossos pecados e os do povo ‒ coisa que não podemos anunciar sem grande dor e pranto ‒ a cidade de Edessa, em nossa língua chamada Rohais foi tomada e muitos de seus castelos ocupados pelos pagãos.

Cristo gladífero à testa dos cruzados
Logo Edessa, que no tempo em que todo o Oriente era dominado por pagãos, servia sozinha a Deus sob o poder dos cristãos. Por outro lado, o arcebispo dessa cidade, juntamente com seu clero e muitos outros cristãos foram mortos e as relíquias dos santos entregues ao pisoteio dos infiéis e dispersas.

Cientes estamos todos de quão grande é o perigo que ora ameaça a Igreja de Deus e toda a Cristandade. Pois é sabido que a maior prova de nobreza e probidade é que as coisas adquiridas pela bravura dos pais sejam corajosamente defendidas pelos filhos – os senhores. Mas, que Deus nos livre, se tal não ocorrer, a valentia dos pais terá diminuído em seus filhos.

Exortamos-vos a todos em Deus, portanto, e vos pedimos e comandamos, e para a remissão dos pecados recomendamos, que os que são de Deus, e, sobretudo os mais nobres cinjam-se de coragem e se esforcem de modo a opor-se à multidão dos infiéis que ora se alegra com a vitória sobre nós obtida.

E que, assim fazendo, defendam a Igreja oriental, liberta de sua tirania por tão grande derramamento do sangue de seus antepassados, como já dissemos, a fim de arrebatar milhares de vossos irmãos cativos de suas mãos e promover a dignidade do nome cristão e fazer vossa valentia elogiada por todo o mundo, permanecendo intacta e inabalável.

Sirva o bom Matias de exemplo para vós, ele que, para preservar as leis de seus pais, sem a menor hesitação expôs-se à morte com seus filhos e parentes, deixando tudo que no mundo possuía.

E que, com a ajuda divina, depois de muitos trabalhos e de longo tempo, corajosamente obteve, bem como os seus descendentes, um varonil triunfo sobre seus inimigos.

Mais ainda, com paternal solicitude paternal para a tranqüilidade dos combatentes e para o restabelecimento da mesma igreja do Oriente, concedemos e confirmamos pela autoridade a Nós por Deus concedida, aos que instados pela graça se decidam a realizar obra tão santa e necessária, a remissão dos pecados conforme instituiu Nosso predecessor, o Papa Urbano.

E decretamos que suas esposas e filhos, bem como suas posses e bens permaneçam sob Nossa proteção e a dos arcebispos, bispos e outros prelados da Igreja de Deus.

São Bernardo foi grande pregador da Cruzada convocada pelo santo Papa
Outrossim, por Nossa autoridade apostólica proibimos que qualquer bem sobre o qual tivessem posse incontroversa ao tomarem a cruz, seja isento de qualquer processo até que se tenha notícias certas sobre seu retorno ou sua morte.

Além disso, tendo em vista que os que guerreiam pelo Senhor não devem de modo algum preparar-se com vestes preciosas nem preocupar-se com sua aparência pessoal, nem com cães e falcões, ou outras coisas que possam pressagiar licenciosidade, exortamos vossa prudência no Senhor para que os que decidirem realizar tão santa obra não busquem as coisas acima mas mostrem todo zelo e diligência com suas armas, cavalos e outras coisas com as quais possam combater os infiéis.

Os que, oprimidos por dívidas, de coração puro se lancem nessa santa jornada não devem pagar juros pelo tempo nela decorrido; e se eles ou outros em seu lugar forem obrigados por juramento ou promessa a pagar juros, de tal obrigação os absolvemos por Nossa autoridade apostólica.

É-lhes também permitido, quando as pessoas de suas relações, conhecendo sua situação, ou seus senhores, a quem são tributários, não lhes queiram avançar o dinheiro necessário, penhorar livremente, sem qualquer promessa de recuperação, suas terras ou outros bens a igrejas, pessoas eclesiásticas ou a qualquer dos fiéis.

Segundo instituiu Nosso citado predecessor, pela autoridade do Deus Todo-Poderoso e pela de São Pedro, chefe dos apóstolos, a nós por Deus outorgada, concedemos a remissão e o perdão dos pecados àquele que devotamente encete tão sagrada missão e a cumpra, ou morra durante a mesma.

Concedemos-lhe a absolvição de todos os pecados que confesse com coração humilde e contrito, recebendo assim o eterno prêmio do Remunerador de todos.

Passado em Vetralle, nas calendas de Dezembro.

(Fonte: Doeberl, Monumenta Germania Selecta, Vol 4, p. 40, trans in Ernest F. Henderson, Select Historical Documents of the Middle Ages, (London: George Bell and Sons, 1910), pp. 333-336. Quantum praedecessores).



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