Hotel de luxo cria favela para ricos ecologicamente corretos
Shanty Town: hotel verde maravilhoso para o jet set usufruir de Laudato Si' na mão.
Luis Dufaur
Chegou o tempo de se preparar para o maravilhoso mundo verde, onde ninguém consome demais, não aquece o planeta e distribui igualitariamente as riquezas para evitar as catástrofes climáticas de origem humana que outrora flagelavam a Terra por culpa do capitalismo.
Partiram na frente alguns figurinos do jet set midiático eclesiástico e já estão testando o estilo de vida verde compatível com a Laudato Si’.
Um hotel de luxo, o Emoya Spa and Oopvuur Restaurant, em Bloemfontein, uma das três capitais da África do Sul, já oferece o ambiente futurista com todas suas comodidades, aliás bastante imperceptíveis, segundo reportagem da Folha de S.Paulo.
Quem chega e pensa que está numa favela é certamente um aquecimentista antipático, a ser corrigido.
Ele deve entender que está enganado, porque o hotel oferece uma “acomodação única”, que pretende simular os assentamentos informais existentes no país.
O Shanty Town é mais parecido com um assentamento do MST, mas vai a caminho da taba indígena.
Poderia, aliás, ter escolhido um assentamento do MST no Brasil, ou uma taba de índios como é cantada idilicamente pelo CIMI e não teria sido muito diferente e quiçá mais econômico.
Mas, em qualquer caso, no Emoya Spa o cidadão do futuro mundo verde encontra um ambiente típico do homem conscientizado que não aquece o planeta, embora padeça de todas as consequências do derretimento dos polos e da acidificação dos oceanos, que por sinal ficam bem longe do local.
O hotel tem todas as acomodações de uma “Shanty Town” sul-africana, leia-se favela em português.
As barracas são feitas com pedaços reciclados de madeira e metal. Os banheiros são ao ar livre, algo muito ecológico e sustentável.
A iluminação é na base de vela, fugindo do consumo desenfreado de energia típico da sociedade consumista que ameaça extinguir os recursos.
Algum pecado ainda é tolerado, como os pisos com aquecimento. Mas o turista pode viver na própria pele o que é uma “shanty” ou favela ecologicamente correta, “no ambiente seguro de uma reserva privada”, segundo prega o site do Emoya Luxury Hotel & Spa.
Para o hotel, o ambiente é “completamente seguro e adequado às crianças”, embora animais selvagens circulem entre os barracos num espírito igualitário de integração homem-animal.
Hóspedes devem aquecer sua água e os toilettes são públicos e 'sustentáveis'.
O hotel também é proposto como ideal para festas temáticas – de qual tema? – e “para se ter uma experiência inesquecível”.
De fato, uma pessoa limpa e de bom senso nunca poderá esquecer uma passagem por esse local.
Atrativo especial: o hóspede precisa fazer “sua própria fogueira” em local comum para obter água quente.
Aliás, há um outro pecadinho, um resquício do passado tolerado aos incorrigíveis: o cliente pode requisitar acesso à energia elétrica.
A diária custa a partir de R$ 145, bastante para uma favela.
O post parece irônico, e talvez o seja, mas o sonho utópico do ambientalismo deseja habituar os homens num estilo de vida “sustentável” e “integrado na natureza”. Ele não visa ajudar as pessoas a melhorar e até a sair da favela, mas a cair nela, numa tendência rumo sempre ao mais baixo, até a taba indígena.
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