O Outro Lado
Fanatismo, desordem, crimes, vícios e imoralidade atolavam o mundo islâmico
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Guerras intestinas e revoltas sanguinárias fazem parte do quotidiano islâmico |
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Luis Dufaur
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A cada época memorável, vemos aparecerem homens cujas qualidades os elevam acima do vulgar e que diferem entre si pelo gênio, pelas paixões ou virtudes.
Esses homens extraordinários, como as figuras que animam as produções dos grandes pintores, imprimem seu caráter em tudo o que os rodeia e o brilho que difundem em redor de si, o interesse que fazem nascer por suas ações e sentimentos, nos ajudarão muitas vezes a colorir e a variar as narrações e as cenas desta história.
Os que estudaram os costumes e os anais do Oriente, puderam notar que
a religião de Maomé, embora seja toda guerreira,
não dava aos seus discípulos aquela bravura persistente, aquela perseverança nos revezes, aquele devotamento sem limites de que os cruzados deram tantos exemplos. O fanatismo dos muçulmanos tinha necessidade de resultados felizes para conservar a força.
Formados à ideia de um
fanatismo cego, eles estavam habituados a considerar o sucesso ou o revés como uma determinação do céu; vitoriosos, mostravam-se cheios de confiança e de ardor; vencidos, deixavam-se abater e cediam sem enrubescer a um inimigo que consideravam como instrumento do destino.
O desejo de conquistar fama raramente excitava-lhes a coragem; e, mesmo no auge de seu furor belicoso, o temor dos castigos os detinha no campo de batalha muito mais que a paixão da glória.
Era-lhes necessário um chefe temível, para ousar enfrentar seus inimigos e o
despotismo parecia necessário ao seu valor.
Depois das conquistas dos cristãos, as dinastias dos sarracenos e dos turcos foram dispersas e quase aniquiladas; os mesmos seldjúcidas tinham sido relegados para os confins da Pérsia e os povos da Síria mal conheciam o nome daqueles príncipes, cujos antepassados haviam reinado sobre toda a Ásia.
Tudo, até o despotismo, foi destruído no Oriente. A ambição dos emires aproveitou-se da
desordem: os escravos dividiram as riquezas de seus senhores; as províncias, as cidades mesmas, tornaram-se outros tantos principados, cuja posse incerta e passageira era disputada.
A necessidade de defender a religião muçulmana, ameaçada pelos cristãos, tinha conservado um pouco de prestígio aos califas de Bagdá.
Eles eram ainda os chefes do islamismo, sua aprovação parecia necessária ao poder dos usurpadores e dos conspiradores: mas seu poder, fantasma sagrado, só se exercia por meio de orações, por vãs cerimônias e não inspirava temor.
Em tal
abaixamento, eles já pareciam ocupados em consagrar o fruto da traição e da violência e distribuíam sem cessar cidades ou cargos que não podiam recusar.
Todos os que a vitória e a licença tinham favorecido, vinham prostrar-se diante dos vigários do profeta e nuvens de emires, vizires, sultões, pareciam, para nos servirmos da expressão oriental, sair da poeira de seus pés.
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A cobiça e a ambição de poder, riquezas e luxúria dividia os infiéis |
Os cristãos não conheceram bastante o estado da Ásia, que podiam conquistar, e, pouco de acordo entre si, jamais se aproveitaram das divisões de seus inimigos.
Basta ter observado o espírito de desordem e de imprevidência que reinava nas Cruzadas, para compreendermos também o espírito daquela república cristã que as guerras santas tinham fundado na Síria e das quais eram a alma e o apoio.
Os francos continuaram com bastante atividade a conquista das cidades e das províncias marítimas, conquista, na qual o comércio da Europa estava interessado e que garantia suas frequentes relações com o Ocidente.
Mas sua atenção e seus esforços raramente se dirigiam às cidades e às províncias do interior do país, cujos povos mantinham relações contínuas com o norte da Ásia e recebiam todos os dias socorro e encorajamento de Mossul e de Bagdá, e de todas as regiões muçulmanas do Oriente.
Todos esses povos, enfraquecidos por muito tempo, como vimos, pela divergência de seus chefes, eram animados por um ódio comum contra os cristãos, e esse ódio, que, para eles tinha o lugar de patriotismo, tendia sem cessar a aproximá-los.
Os francos, ocupados em conservar suas possessões nas costas marítimas, nenhum meio empregaram para impedir que, de outro lado, seus inimigos chegassem a se reunir e que um poder brotando de repente do seio das ruínas, lhes viesse disputar o fruto de suas. vitórias.
Os mais sensatos ou os menos imprevidentes, não viram então que toda essa população da Síria, abatida, não, porém, aniquilada, dispersada, não vencida, só esperava para reunir suas forças e empregar sua temível energia, um chefe hábil e feliz, levado ao mesmo tempo pelo
fanatismo religioso e pela
ambição dos conquistadores.
(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Livro sétimo 1151-1181. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso)
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