Cruzes derrubadas voltam em desafio à cristofobia socialista
Enquanto o governo chinês tira as cruzes pela força, os cristãos colocam mais cruzes por toda parte.
Luis Dufaur
Enquanto uma dúzia de paroquianos católicos chorava e cantava hinos em reparação ao sacrilégio que estava sendo cometido, funcionários socialistas serravam a Santa Cruz no alto da igreja católica de Dafei, informou a agência Associated Press.
Mais de 100 agentes da tropa de choque reforçavam a polícia e os funcionários estatais contra os pacíficos paroquianos que queriam proteger o símbolo da Fé.
“Nós não violamos a lei. Não fazemos oposição ao governo, somos cidadãos comportados”, lamentava um paroquiano que se identificou somente como Chen, temendo retaliações das autoridades.
Os dirigentes socialistas da província de Zhejiang, no sudeste da China, receberam um ultimato superior para arrancar as cruzes de torres, tetos e paredes de cerca de 4.000 igrejas que povoam os panoramas daquela dinâmica região.
A indignação popular é grande, e até as associações cristãs que aceitaram o controle do Partido Comunista para não serem hostilizadas, agora se mobilizaram contra o poder socialista, denunciando a campanha como anticonstitucional e humilhante.
No sentir geral, a campanha contra a Cruz é atribuída a Xi Jinping, presidente da China e chefe supremo do Partido Comunista.
Para Yang Fenggang, especialista em religiões da China na Universidade de Purdue, nos EUA, o partido cometeu um grave erro de cálculo.
Ele achava que eliminando as cruzes esfriaria a expansão cristã e reforçaria o controle da ditadura. Porém, está se dando o contrário e a região está entrando numa perigosa instabilidade religiosa.
Os agentes da demolição socialista encontram inesperada resistência. Os paroquianos organizam vigílias e tentam bloquear as entradas das igrejas até com caminhões. Em outras igrejas, eles re-erguem as cruzes em atitude desafiante.
“As autoridades estão especialmente preocupadas porque os cristãos têm um forte senso de identidade e podem se transformar numa poderosa força social”, ponderou Zhao Chu, comentarista independente.
Ele acresce que o Partido Comunista está desafiando um inimigo que hoje é maior que ele próprio. Segundo Yang, os cristãos somam por volta de 100 milhões e aumentam aceleradamente, enquanto o Partido Comunista tem por volta de 88 milhões de aderentes, e em diminuição.
O próprio Partido oficial é ateu e anti-religioso, mas está cheio não só de cristãos, mas também de budistas, muçulmanos e seguidores de outras crenças. A cúpula da ditadura teme que especialmente os cristãos venham a mudar o Partido por dentro.
O comunismo tentou apagar a religião durante a Revolução Cultural das décadas de 1960 e 1970. Mas o imenso vazio espiritual que ele criou funciona agora como um motor moral que leva os chineses a procurarem a Cruz de Cristo.
Pequim exige que todos os grupos religiosos se submetam a seu controle, enquanto trabalha para nomear bispos sem ouvir o Vaticano.
O governo pode se gabar de suas relações com o “progressismo” católico no exterior e de certos gestos conciliadores provenientes da diplomacia vaticana. Mas essas amizades não impressionam muito os fiéis, e nem sequer os pagãos que se aproximam do Evangelho.
A própria Igreja Patriótica Católica – uma dependência burocrática do governo que pretende mandar nos católicos –, temendo o aumento da animosidade contra o Partido, protestou contra a remoção das Cruzes de algumas igrejas em Zhejiang e pediu o término das oposições populares.
Yang acha que as autoridades podem perder sua influência junto às associações colaboracionistas, as quais estão de fato se parecendo com o sempre foram: um instrumento astuto da repressão.
“Agora essa ponte está sendo incendiada”, acrescentou Yang.
Católicos de Dafei rezam enquanto cruz da igreja (ver sombra) está sendo arrancada pelos agentes socialistas.
O medo, a frustração e o furor são mais palpáveis no grande município de Wenzhou, na costa leste. Com 9 milhões de habitantes e cerca de de 2.000 igrejas, Wenzhou é tido como bastião do cristianismo e do espírito de livre iniciativa no leste do país.
Cada uma de suas cidades se destaca pelo fabrico de algum artigo: botões, sapatos, produtos para animais de estimação, brinquedos. E cada cidade tem uma ou duas igrejas.
Vinte e quatro líderes católicos publicaram uma carta aberta muito firme denunciando a ilegalidade da campanha do governo contra as Cruzes.
Nas aldeias, a população desobedece às ordens socialistas e se recusa a tirar as Cruzes. O governo envia então equipes de demolição que cumprem sua missão, mas pouco depois as Cruzes estão reinstaladas em seus lugares.
“Foi um ataque surpresa. Não os deixamos entrar, mas eles arrebentaram os cadeados. Exigimos o documento autorizando, mas eles nada mostraram. Eles nos expulsaram da igreja”, disse Tu, um dos paroquianos.
“Nós todos chorávamos. Nossos corações estavam em pedaços, mas éramos impotentes para resistir, e só rezávamos e cantávamos hinos”.
Em Dafei, a equipe de demolição montou andaimes para atingir a Cruz, enquanto os policiais impediam que um fotógrafo e um vídeo-jornalista da Associated Press pudessem documentar o atentado. Despercebido do esquema de repressão, um repórter presente conseguiu filmar as cenas.
Enquanto a cruz caía, os fiéis cantavam: “Ele recorre ao amor da Cruz, da Cruz, para conquistar os homens”.
Sintoma eloquente da reação religiosa, um dos líderes cristãos de Zheijiang, cujo nome não foi revelado, explicou a decisão dos fiéis ao jornal britânico The Guardian:
“Cada vez que derrubarem uma Cruz, levantaremos uma nova. Estamos pensando em fazer bandeiras e roupas com a Cruz estampada. Faremos a Cruz florescer em toda a China”, noticiou Infocatolica.
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