Carta do Infante D. Henrique a Maomé II, sultão dos turcos
O Outro Lado

Carta do Infante D. Henrique a Maomé II, sultão dos turcos


Maomé II, Bellini

Em 1453, Maomé II conquistou Constantinopla. Logo depois se voltou para a Europa, avançando em várias frentes. Em 1456 assaltou Belgrado, sendo barrado por Hunyadi e São João Capistrano.

Durante o pontificado de Pio II, ele tomou a Bósnia, ameaçou a Hungria, a Herzegovínia e a própria Veneza. Na Albânia travou combates repetidos com Skanderbeg, o qual até sua morte sempre os repeliu com êxito.

Ao mesmo tempo, a partir da África, os muçulmanos ameaçavam reforçar Granada e, a partir dessa cidade, irromper novamente na Espanha.

Por todas essas razões o Papa Calisto III, convocou uma cruzada contra Maomé II. Portugal respondeu favoravelmente, tendo o Infante D. Henrique enviado ao poderoso sultão da Ásia a seguinte carta de desafio:

Infante Dom Henrique, o Navigador
"Eu, o Infante D. Henrique, regedor e governador da Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, Duque de Vizeu, Senhor de Covilhã, filho dos muito altos e excelentes e de grande memória senhores El-Rei D. João e Rainha Filipa do Reino de Portugal e do Algarve e senhores do senhorio de Ceuta, que Deus haja suas almas:


"A ti, Mafamede, imperador dos turcos, faço saber que a mim foi notificado onde vivo, no cabo do mundo, do movimento que fizeste em vires tomar Constantinopla e trabalhares de guerrear a Cristandade, por a qual razão nosso senhor o Santo Padre o fez saber ao muito alto, e muito honrado, muito poderoso El-Rei meu senhor e sobrinho, filho de meu irmão, enviando-lhe a cruzada contra ti, a qual ele tomou com grande devoção, eu e outros seus servidores; e depois disto houve notícia da tua grande maldade, por a qual Nosso Senhor Deus por muitas vezes deu as penas por sua justiça aos merecedores delas, como fez aos de Sodoma e Gomorra, a qual maldade a toda a humanidade deve ser aborrecida, porque não é humana, nem bestial, mas diabólica.

Infante Dom Henrique, à esquerda de São Vicente, Nuno Gonçalves
"Por onde te notifico como a dita cruzada tenho tomada contra ti, e te punirei por mim e por todos aqueles que desejam meu serviço, até o fim de tua morte, porque te hei por julgado por sentença de Deus; e isto te faço assim saber, para alguns que de ti ficarem não poderem dizer que te trouxe a morte sem te a fazer saber; e esta carta e outras duas te envio para, se uma não te for dada, que a outra te dêem, para haveres certidão de minha firme vontade".





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