O Outro Lado
Balduíno IV: o santo rei leproso que espantou a Saladino
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Balduíno IV na batalha de Montgisard |
continuação do post anteriorUm novo cruzado — Filipe de Alsácia, conde de Flandres e parente próximo de Balduíno IV — acabava de desembarcar. O pequeno rei Balduíno esperava muito desse apoio.
Estava claro que era necessário ferir Saladino no coração de seu poderio — isto é, no Egito — se se quisesse abalar a unidade muçulmana. Era isso, precisamente, o que propunha o basileus, imperador de Bizâncio.
O Egito, uma vez conquistado em parte, Damasco não poderia deixar de subtrair-se ao poder cambaleante de Saladino.
Mas Filipe de Alsácia opinava de outra forma. Ninguém poderia impedi-lo de ir guerrear na Síria do Norte, e, o que era mais grave, de levar consigo parte do exército franco.
Saladino respondeu invadindo a Síria do Sul. Balduíno reuniu o que lhe restava da tropa, desguarneceu audaciosamente Jerusalém e partiu para Ascalon, onde Saladino investia. Este, logo que foi informado, subestimou seu adversário. Ele acreditava que a queda de Ascalon era uma questão de dias, e marchou sobre Jerusalém com o grosso de seu exército.
Balduíno compreendeu suas intenções. Saiu de Ascalon, fez um longo périplo e caiu repentinamente sobre as colunas de Saladino, em
Montgisard.
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Vale de Montgisard |
O efeito da surpresa não compensava a desproporção dos efetivos em luta, e Balduíno sentiu a hesitação dos seus. Desceu do cavalo, prosternou-se com o rosto na areia, diante do madeiro da verdadeira Cruz, que era levada pelo Bispo de Belém, e orou com a voz banhada de lágrimas.
Com o coração convertido, seus soldados juraram não recuar, e considerariam traidor quem voltasse atrás. Rodeando o Santo Lenho, o esquadrão de trezentos cavaleiros se lançou impetuosamente.
“O vale entulhava-se com a bagagem do exército de Saladino — diz
Le Livre des Deux Jardins — os cavaleiros francos surgiam ágeis como lobos, latindo como cães. Atacavam em massa, ardentes como uma chama”. E puseram em fuga o invencível Saladino.
Se este salvou a pele, foi graças à rapidez de seu cavalo e ao devotamento de sua guarda. Retornou ao Egito, abandonando milhares de prisioneiros. Balduíno logrou, enfim, uma vitória sem precedentes.
No ano seguinte Balduíno edificou o Gué-de-Jacob, fortaleza destinada a defender a Galiléia dos ataques de Damasco. Guilherme de Tyr pretende que isso tenha sido feito pelas prementes solicitações de Odon de Saint-Amand, grão-mestre do Templo. Em todo caso, qualquer que tenha sido o inspirador da idéia, não há dúvida quanto à importância estratégica de Gué-de-Jacob.
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Balduíno IV em Montgisard, Charles Philippe Larivière (1798-1876) |
Em 1179 Saladino invadiu a Galiléia. Balduíno foi ao seu encontro, tentando surpreendê-lo como tinha feito em Montgisard. Mas como os muçulmanos se contivessem, ele foi cercado e caiu prisioneiro. Muitos foram mortos e presos nesse dia. Pouco depois Saladino tomou Gué-de-Jacob e fez executar todos os templários que a defendiam.
Sybila, irmã do rei, acabava de casar — contrariamente aos interesses de Estado — com Guy de Lusignan, homem de beleza discutível, sem fortuna e sem talento. Balduíno, pressionado pelos seus, minado pela doença, tinha consentido nessa união e dado a Lusignan os condados de Jaffa e Ascalon.
Tão logo a insignificância do marido de Sybila se manifestou, atiçaram-se as esperanças dos senhores feudais. Contava-se que o irmão de Lusignan, comentando o casamento, disse: “Se Guy for Rei, eu deveria ser Deus!” Tal a mediocridade que lhe era atribuída.
Nessa mesma ocasião, Isabel de Jerusalém desposava Anfroi de Toron, filho indigno de seu pai, o falecido condestável de Jerusalém, morto em defesa do rei.
O estado de Balduíno IV piorava dia a dia. Foi uma provação para sua mãe — que não tinha boa fama — e para a roda de seus cortesãos ambiciosos e amorais, ver a aproximação de Balduíno com Raimundo de Trípoli, único homem capaz de o aconselhar sabiamente.
continúa no próximo post(Fonte: Georges Bordonove, “Les Templiers”, in “Catolicismo” nº 303)
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