O Outro Lado
Balduíno I, rei de Jerusalém: herói da concórdia dos príncipes católicos no Oriente Médio
Após a morte de Godofredo de Bouillon, tornou-se premente que os príncipes francos se unissem. A união aconteceu sob o enérgico impulso de Balduíno I, primeiro rei de Jerusalém (1110-1118).
De fato, em 1110, por vez primeira após a tomada da Cidade Santa o mundo turco se agitava preparando uma contra-cruzada.
O sultão seljúcida da Pérsia organizou uma grande expedição à testa da qual colocou seu ajudante Maudoud, emir de Mossul.
Em abril-maio daquele ano Maudoud sitiou a cidade de Edessa com um poderoso exército. Edessa (hoje Orfa) estava à testa de um condado franco que se estendia para além do rio Eufrates abarcando grande parte do norte do Iraque atual.
Vendo os turcos se aproximarem, Balduíno du Bourg, conde de Edessa enviou Jocelin de Courtenay a pedir auxílio para Balduíno I, rei de Jerusalém.
A situação piorara muito porque o vizinho príncipe de Antioquia, Tancredo, deveria ter fornecido uma ajuda mais rápida, mas dava claros sinais de má vontade.
Balduíno I partiu logo, recolhendo no caminho todos os contingentes disponíveis. Em poucas semanas reuniu quinze mil homens e com eles apareceu na planície de Edessa.
A crônica descreve com alegria a chegada de este exército de reforço
“as bandeiras e os elmos reluziam sob os raios do sol de verão, as trombetas soavam rumorosamente, era o enorme tumulto de muitas tropas”.
Os turcos não esperavam essa e bateram em retirada para Harran.
Edessa estava salva, mas o rei de Jerusalém percebeu a necessidade de acabar com as dissensões entre os francos. Ele, então, convidou Tancredo para vir explicar sua defecção.
Era tão viva a animosidade do príncipe normando que este hesitou em obedecer. Mas, afinal, decidiu ir, pois diante da ameaça turca uma ausência mais demorada equivaleria à traição.
Chegando a Edessa Tancredo foi cumprimentar ao rei recebendo cordial acolhida. Quando Balduíno I inquiriu as razões de sua atitude, Tancredo reivindicou a suserania de Edessa porque “a cidade pertenceu desde sempre a Antioquia”.
Alberto de Aix nos fornece a substância da réplica de Balduíno I, verdadeira sentença real, cheia de força e de majestade:
“Meu irmão Tancredo, o que tu pedes não é justo. Tu te fundas no estatuto de um país no tempo da dominação muçulmana, mas tu deves te lembrar que, quando nos partimos para a guerra santa, ficou acordado que cada um de nós guardaria tudo o que tirasse dos infiéis.
“Além do mais, vos tendes constituído um rei para que ele vos sirva de chefe, de salvaguarda e de guia na conservação e na dilatação da conquista. É por isso que eu tenho o direito, em nome de toda a Cristandade aqui representada, de te exigir uma reconciliação sincera com Balduíno du Bourg. Se não, se tu preferes intrigar com os turcos, tu não podes ficar um dos nossos e nós te combateremos sem piedade!”
Desta vez, Tancredo inclinou-se definitivamente.
Não foi pequeno o mérito de Balduíno I ter sabido na base da firmeza e das boas graças fazer cessar a oposição de Tancredo e associar à política real este antigo adversário pessoal.
Tancredo tornou-se um partidário decidido da concórdia franca até morrer em Antioquia em 12 de dezembro de 1112.
(Fonte: René Grousset, “L’epopée des croisades”, Perrin, Paris, 2002, cap. IV)
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