Foulques de Neuilly: de padre relaxado a pregador da Cruzada e taumaturgo
O Outro Lado

Foulques de Neuilly: de padre relaxado a pregador da Cruzada e taumaturgo


Foulques de Neuilly-sur-Marne: de padre relaxado a pregador da Cruzada e taumaturgo
Foulques de Neuilly-sur-Marne:
de padre relaxado a pregador da Cruzada e taumaturgo

Um exemplo significativo da flexibilidade de espírito dos medievais vem da história de Foulques, vigário de Neuilly-sur-Marne, na França.

Ele, de início, foi um vigário relaxado que vivia como um leigo na ignorância da religião. E na Idade Média havia duas categorias bem definidas de vigários: o relaxado e o não relaxado.

Esse vigário relaxado à certa altura se converteu e se transformou num bom vigário.

Sua ação começou a se difundir em torno de Neuilly-sur-Marne. Depois começou a ser conhecido fora, mas mal visto.

A conversão dele datava de apenas dois anos, quando ele soube que havia uma assembleia geral de abades para tratar das Cruzadas.

Ele vai, se apresenta nessa assembleia e fala aos abades. Os abades se recusam a apoiá-lo.

Então, ele resolve dirigir-se ao povo que se comprimia do lado de fora. Falou com tanta força, com tanta unção, de um modo tão religioso que toda a multidão que o ouvia – velhos, homens, mulheres, nobres, plebeus – resolveu tomar a cruz.

Depois, ele começou a pregar a Cruzada por toda a região.


Entre os episódios, conta-se que ele encontrou, num castelo, um grupo de nobres ingleses e franceses, que se divertiam num torneio.

Ele dirigiu-se aos nobres e mostrou que era coisa absurda eles estarem combatendo uns contra os outros, quando o mais importante era defender o sepulcro de Cristo, glória muito maior do que a glória dos torneios.

Foulques de Neuilly pregou a IV Cruzada na igreja de S. Severin de Paris.
Foulques de Neuilly pregou a IV Cruzada na igreja de S. Severin de Paris.
Os nobres se impressionaram tanto que todos eles deixam a guerra entre si e vão para as Cruzadas. E eles formaram o cerne da IV Cruzada a Terra Santa.

Depois disto ele vai a Paris para pregar diante da multidão.

Fala a respeito da gravidade dos pecados.

É tão grande a impressão que ele causa em seus discursos feitos em praça pública que muitas pessoas tiram os calçados, jogam-se aos pés dele levando-lhe correias e varas, pedindo que lhes dê uma sova...

Ele falou sobretudo contra os usurários e as mulheres perdidas.

Muitas mulheres perdidas aproximavam-se dele com os cabelos cortados, pedindo que ele indicasse para elas um estilo de vida.

E foram tantas as mulheres perdidas que ele converteu que teve que fundar um convento delas: a abadia de Saint-Antoine-des-Champs no bairro Saint-Antoine.

Mais ainda. Ele tocou corações mais duros que os dessas mulheres... Convertia usurários, exigia que eles devolvessem o dinheiro roubado e para depois se emendarem.

Ricardo Coração de Leão foi convertido  pela pregação de Foulques de Neuilly.
Ricardo Coração de Leão foi convertido
pela pregação de Foulques de Neuilly.
Havia usurários, em quantidade, que davam o dinheiro para os pobres e mudavam de vida...


Tratava-se de mudanças profundas de orientação e de deliberação

Tratava-se de almas susceptíveis de serem tocadas pela graça.

A conversão de Ricardo, rei da Inglaterra

Numa ocasião foi pregar para Ricardo, rei da Inglaterra. Apresentou-se para ele e disse:

– Rei, deves deixar as três mulheres que tens.

O rei:

– Hipócrita, não tenho nenhuma.

Ele: – Tens três mulheres, que são: a avareza, a impureza e a soberba.

O rei: – Não há dúvida!

Volta-se para os nobres e diz: – Eu dou a avareza para..., a impureza para o episcopado, o orgulho dou para os Templários...
Ricardo Coração de Leão,
túmulo na abadia de Fontevraud, França

A bondade aliada à severidade: condição para mover as almas

Era taumaturgo. E, além disso, pela imposição das mãos, ele curava.

Mas havia algumas pessoas que ele declarava que não sarava. E dava a razão. Eram razões altamente teológicas, dignas de serem meditadas por quem, sem discernimento, tem pena de todos que sofrem, de todos os doentes.

Dizia: “não vou curá-lo porque a cura será um mau para sua alma!”

Outras vezes: “eu poderia curá-lo e não faria mal. Mas é preciso fazer ainda mais penitência de seus pecados para depois curá-lo. Vá fazer penitência”.

Agora, meçam a diferença do homem de hoje. Há uma imobilidade tremenda, cadavérica do homem contemporâneo. Seu coração é empedernido, bruto.





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