Conflitos sociais se multiplicam nas fábricas chinesas. Operários beiram o desespero
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Conflitos sociais se multiplicam nas fábricas chinesas. Operários beiram o desespero



 O índice de produção industrial compilado pelo banco HSBC mostra que as encomendas das empresas chinesas recuaram, em novembro, para seu nível mais baixo em 32 meses: esse índice se situa em 48, sendo que um número inferior a 50 indica uma contração da atividade.

Mas novembro também foi o mês mais tumultuado nas fábricas, com uma greve nas linhas de produção da Honda que evidenciou o descontentamento dos operários.



No dia 22 de novembro uma greve interrompeu a produção na Jingmo, um grupo taiwanês que monta teclados e outros acessórios para marcas como Apple e IBM.

Segundo a associação pelos direitos humanos China Labor Watch, os gerentes impunham aos empregados horas de trabalho noturno, das 18h à meia-noite e às vezes mais tarde, para concluir jornadas que começavam às 7h30.

No dia 14 de novembro, milhares de operários, temendo por seus empregos e queixando-se de não terem sido informados, organizaram uma paralisação em cinco fábricas da Pepsi, quando a gigante dos refrigerantes anunciou a cessão de suas atividades locais de engarrafamento para um grupo chinês.

Outro movimento estourou, no dia 17 de novembro, em Dongguan, cidade operária ao norte de Shenzhen, onde 7 mil empregados da Yuecheng, fornecedora de marcas como New Balance e Nike, interromperam a produção durante uma semana.

No mês anterior, dezoito gerentes da fábrica haviam sido dispensados e os operários suspeitavam de uma transferência da fábrica para Jiangxi, província onde a mão de obra é mais barata.

No fim do mês de outubro, operários que fabricavam relógios Citizen em Shenzen também mencionaram o medo de que a produção fosse transferida para outro lugar, após o Ano Novo chinês (no final de janeiro), para justificar uma paralisação no trabalho.

Essas "transferências internas" são apresentadas como uma solução em longo prazo para o mal-estar de migrantes que sofrem com o afastamento das famílias.

“Algumas fábricas estão se mudando para regiões mais baratas, o que cria um ambiente tenso. Os trabalhadores se perguntam por quanto tempo sua fábrica continuará aberta”, constata Geoffrey Crothall, porta-voz da associação China Labour Bulletin, em Hong Kong. “E ao mesmo tempo a demanda vem se desacelerando”.

As margens de manobra dos empresários são limitadas. É preciso aumentar os salários em período de inflação para segurar esses operários que não hesitam mais em se rebelar e se coordenam através de mensagens SMS e microblogs. Em Shenzen, as autoridades locais estão impondo um aumento de 15% do salário mínimo em janeiro de 2012.

Mas, os mercados de exportação têm encomendado menos e o próprio crescimento chinês desacelerou para 9,1% no terceiro trimestre, contra 9,7% no início do ano, sob o peso de uma política monetária mais rigorosa.

Para segurar investidores prejudicados por esse aumento no custo da mão de obra, Dongguan, cidade das fábricas de trabalho em regime semiescravo, cuja economia depende basicamente das exportações, propôs reduzir os impostos de 300 milhões de yuans (R$ 86 milhões) ao ano infligidos às fábricas, segundo o “South China Morning Post”.

Setenta por cento das fábricas dessa cidade dizem estar com problemas financeiros. As queixas mais “clássicas”, tais como pela melhora nos métodos retrógrados de gerenciamento, também figuram entre as reivindicações dos trabalhadores, e elas mesmas se acentuam na fase de desaceleração.

Cerca de 400 operárias da fábrica de sutiãs Topform suspenderam o trabalho durante cinco dias a partir de 16 de novembro, em protesto contra “um sistema de pagamento por peça e cotas de produção diária impossíveis de cumprir”, segundo o China Labor Watch.

A greve foi desencadeada por palavras particularmente chocantes de um contramestre cantonês, que se irritou com uma funcionária que só entendia mandarim.

Referindo-se ao delicado assunto dos suicídios de trabalhadores imigrantes, ele disse à operária: “Pule do telhado e vá para o inferno!”





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