O Outro Lado
Código Florestal: princípios ideológicos no projeto podem inviabilizar a produção agrícola brasileira
|
Código Florestal vai ser "verde", "vermelho" ou genuinamente brasileiro? |
As modificações introduzidas pelo Senado no projeto de Código Florestal incluem princípios genéricos teóricos que parecem feitos de molde a ludibriar os deputados que devem rever o projeto e sancioná-lo definitivamente.
A introdução desses princípios genéricos de fundo ideológico fornecerá multiformes e sinuosos pretextos a ativistas, advogados e organismos ambientalistas para tentar inviabilizar a atividade agropecuária no Brasil.
De acordo com Evaristo Eduardo de Miranda, chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, já antes do debate do atual projeto de Código Florestal, sob o ponto de vista legal, o agronegócio brasileiro caminhava para uma situação insustentável.
Para Miranda revela as leis federais estavam colocando agricultores e pecuaristas na ilegalidade.
|
Vice-presidente da CNBB, D. José Belisário da Silva após reunião com secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho. CNBB passa da reforma agrária socialista vermelha ao socialismo verde. Foto Antônio Cruz-ABR |
'Cerca de 70% das terras do Brasil são inviáveis legalmente para atividades produtivas. Na Amazônia, apenas 6% poderiam virar lavoura ou pastagem', calculou ele para Globorural.
Mas, a situação pode piorar muito se as reformas no projeto de Código Florestal introduzidas no Senado, passam na Câmara dos Deputados.
Em entrevista a Globorural, em novembro de 2011 o especialista fez esclarecimentos sobre a atual situação da agropecuária brasileira que é indispensável conhecer.
Evaristo Eduardo de Miranda se preocupa das relações entre agricultura e meio ambiente há três décadas, quando passou na equipe da Embrapa Monitoramento por Satélite, em Campinas (SP), da qual foi chefe geral.
Agrônomo e ecólogo pela Universidade de Montpellier, na França, ele é um dos coordenadores da secretaria do governo federal que atua na prevenção de catástrofes, como crises ambientais, energéticas e alimentares.
|
Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, recebe CNBB e ativistas ambientalistas. Foto Antônio Cruz-ABR |
Globo Rural - A agricultura tem condições de ser parceira da sustentabilidade?
Evaristo Eduardo de Miranda - A sustentabilidade deve ser discutida levando em conta as mudanças que ocorreram na atividade nas últimas décadas.
Há mais de 20 anos, a agricultura vive uma retração territorial constante de mais de 2 milhões de hectares por ano. Entre os períodos de 1986 e 2006,
a área ocupada pelos estabelecimentos agrícolas diminuiu cerca de 45 milhões de hectares, ocupando cerca de 30% do território nacional. Mesmo assim, existe um mito de que a agricultura brasileira é uma devoradora de espaços, engolindo florestas e cerrados. GR - Para quem a agricultura perdeu espaço?
Evaristo de Miranda - Para áreas que não podem ser mecanizadas, para as cidades que ocupam áreas agrícolas, para a infraestrutura do país, com estradas, hidrelétricas e redes de transmissão que comem o espaço da agricultura todos os anos.
|
Senadores aprovaram perigosa reforma do projeto de Código Florestal. Foto José Cruz-ABR |
Além desses fatores, houve a criação de muitos parques, reservas, áreas protegidas.
Somente as unidades de conservação ocupam 30% do território nacional. São todas áreas nas quais a agricultura deixou de existir. Com certeza, ela é menor do que foi há 40 anos. GR - A diminuição do território agrícola não pressiona áreas que devem ser protegidas?
Evaristo de Miranda - De forma alguma. Entre 1976 e 2010, a área plantada com grãos no Brasil cresceu 27%, enquanto a produção aumentou 273%.
Em um mesmo hectare, o agricultor produz, em média, duas vezes e meia mais milho, trigo, arroz, soja e feijão. Em 1970, um agricultor brasileiro produzia alimentos para 73 pessoas. Em 2010, o número saltou para 155 pessoas.
O que acontece é que as áreas vêm sendo utilizadas de forma mais intensiva e tecnificada, com duas e até três colheitas por ano.
|
Evaristo de Miranda: ninguém conhece melhor o meio ambiente que os produtores rurais. |
Em 30 anos, o país deixou a posição de importador de alimentos para tornar-se um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas, graças aos ganhos constantes de produtividade. Por isso, insisto que sustentabilidade tem de ser discutida nesse contexto. Ela é uma questão técnica, e não de crença ou boa vontade.
GR - O produtor rural não encara a sustentabilidade como um fator limitante para sua atividade?
Evaristo de Miranda - Vai encarar como uma grande oportunidade, e não mais como pressão. Nos últimos tempos,
os agricultores têm recebido mais por suas colheitas. E, se estão mais capitalizados, eles
têm condições de pensar em conservação de solo e investir em tecnologias parceiras do meio ambiente. Durante décadas, o produtor se manteve descapitalizado, apesar de produzir alimentos cada vez mais baratos para a população.
E quem se apropriou desse ganho todo? As cidades, que sempre tiveram na agricultura o financiador líquido para seu desenvolvimento.
GR - A agricultura pode exercer o papel de guardiã do meio ambiente?
Evaristo de Miranda - O papel da preservação ambiental da agricultura é gigantesco. Ela é capaz de apresentar soluções para conservação da água e da biodiversidade. Além de alimentos e fibras,
ela garante uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Segundo dados do Balanço Energético Nacional de 2010, 47,3% da energia brasileira provém de fontes renováveis (cana-de-açúcar, hidroelétricas, lenha, carvão, biodiesel, etc.), em comparação a uma média mundial de 18,6%. Isso contribui para que o
Brasil esteja entre as nações que menos liberam gás carbônico na atmosfera. |
Ambientalismo desconhece realidades ligadas ao Código Florestal. Foto José Cruz-ABR |
GR - Os produtores estão preparados para praticar uma agricultura que enfrentará cada vez mais as mudanças climáticas?
Evaristo de Miranda - Eles são os que mais estão preparados para isso. Em parte, por conta do acervo de variedades que o Brasil conseguiu formar.
Os agricultores têm competência para lidar com isso, pois são muito bem informados. Eles estão na terra movidos por um compromisso maior, e não apenas por questão de oportunidade. Pena que às vezes sejam tratados como criminosos pelos que não viram a evolução agrícola no país. Essas pessoas ainda estão apegadas ao modelo do passado, de associar agricultura ao desmatamento.
GR - Mas esse modelo ainda não está completamente fora de uso.
Evaristo de Miranda - Nos últimos 20 anos, uma série de alterações da legislação ambiental, via decretos, portarias, resoluções e medidas provisórias do Poder Executivo, restringiu severamente a possibilidade de remoção da vegetação natural, exigindo sua recomposição e o fim de atividades agrícolas em áreas tradicionalmente ocupadas.
Em termos legais, apenas 29% do país seria passível de ocupação agrícola intensiva. Hoje, mais de 71% do território são áreas protegidas. A média mundial é de 12%.
Essas iniciativas não contemplaram realidades socioeconômicas existentes nem a história da ocupação do Brasil e causam um enorme divórcio entre legitimidade e legalidade no uso das terras. GR - Como o senhor avalia a disputa entre ruralistas e ambientalistas em torno do Código Florestal?
|
Ativistas confiam em intervenção da presidente Dilma, Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom-ABR |
Evaristo de Miranda - De novo, deparamos com nossa incapacidade de reconhecer a diversidade e a ocupação territorial do Brasil.
É preciso levar em conta as áreas consolidadas nas quais a agricultura está há séculos, como os vinhedos do Rio Grande do Sul, as maçãs em Santa Catarina, o café em Minas Gerais e assim por diante.
Mas
o assunto precisa ser trabalhado com critérios técnicos. Pelos cálculos da Embrapa, se houver a obrigação de recompor essas áreas de preservação permanente, as APPs, o custo será de R$ 650 bilhões. Nas contas do Instituto de Pesquisa Agrícola, esse valor é de R$ 1 trilhão.
Com certeza, o setor rural não tem como arcar com essa conta. É necessário melhorar a agricultura, reduzir seu impacto ambiental, mas contemplando as realidades que estão consolidadas.
Não é possível compará-las com áreas novas de ocupação, como as do Piauí, Rondônia ou Pará, onde será necessário estabelecer restrições para que elas não sejam ocupadas de forma errada.
A gente tem de levar para lá o que há de melhor – e não a agricultura predatória utilizada no passado.
loading...
-
O Brasil Acabou?
Evaristo Eduardo de Miranda Coordenador do GITE; EMBRAPA Paulistano, agrônomo, tem mestrado e doutorado em ecologia pela Universidade de Montpellier (França). Com centenas de trabalhos publicados no Brasil e exterior, é autor de 35 livros. Pesquisador...
-
Pânicos “verdes” Com A Seca São Produto De “aquecimento Verbal”
Dr. Evaristo Eduardo de MirandaO Dr. Evaristo Eduardo de Miranda vem dando a conhecer continuadamente esclarecimentos sobre problemas da agricultura ligados ao clima. Como cientista objetivo e altamente capacitado ele não despeja sobre o leitor enganadoras...
-
O Imenso "brasil Desconhecido" Que O Ambientalismo Comunistoide Quer Malograr
Da esquerda para a direita: Dr. Plinio Xavier, Dr. Evaristo Miranda, Dr. Adolpho Lindenberg, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Dr. Caio Xavier da Silveira e Dr. Mario NavarroEdson Carlos de OliveiraO Instituto Plinio Corrêa de Oliveira realizou na...
-
Projeto De Código Florestal Arrasa Agricultura E Prepara Conflitos Sem Fim. Quando Os “vermelhos” Agem Como “verdes”
Um panorama que pode desaparecerEm 17/03/2012, “O Estado de S.Paulo” publicou o artigo do jornalista Rodrigo Lara Mesquita “Código Florestal, utopia ou loucura?” com relevantes informações e comentários das consequências funestas da atual...
-
Chefe-geral Do Monitoramento Por Satélite Da Embrapa: “a Agricultura é A Salvação” Para A Amazônia
Evaristo Eduardo de Miranda, chefe-geral da unidade de monitoramento por satélite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), defendeu a tecnologia (inclusive os transgênicos) para garantir o abastecimento mundial de alimentos e evoluir...
O Outro Lado