Cavalaria Medieval: um oitavo sacramento...
O Outro Lado

Cavalaria Medieval: um oitavo sacramento...


Cavaleiro, Bruges, Belgica
Na estrutura feudal floresceu a Cavalaria, como a flor de abril nos ramos da macieira.

A cavalaria constituiu uma dignidade de ordem moral, que conferia àquele que com ela fosse honrado, uma investidura de caráter praticamente religioso. Sua origem remonta ao século XII, século proclamado por Quicherat como o maior de nossa História.

Léon Gautier em importante obra consagrada ao assunto chegou a qualificar a Cavalaria de “Oitavo Sacramento”.

Um padre que casasse e fosse preso vestindo trajes civis, deveria ser conduzido a um tribunal eclesiástico. O mesmo se passava com o Cavaleiro. Por outro lado, ele usufruía de vários privilégios consagrados ao clero. Clérigos e cavaleiros eram homenageados da mesma forma.

Os Cavaleiros eram considerados por todos como um grupo de elite.

Se uma jovem dama se tornasse herdeira de um importante domínio; ou se uma mulher ficasse viúva e com terras para administrar, recorria a um cavaleiro para que protegesse seus bens, tomasse a guarda de seu castelo e o comando dos homens de armas. O Cavaleiro recebia com isso o título de Visconde ou o de Castelão.

São três as ordens necessárias para o bom funcionamento de um Estado:

– o Sacerdote, para cuidar do culto e das orações;

– o trabalhador, para cuidar do campo;

– e o Cavaleiro, para proteger a ambos e sustentar a Justiça.

Nas comparações que fazem entre Clero e Cavalaria, os autores mais antigos sustentam que ao Cavaleiro deve ser imposta a obrigação do celibato.

Quem podia ser armado Cavaleiro?

A primeira condição exigida era, naturalmente, a Fé Católica. A idéia de se fazer armar Cavaleiro a um sarraceno fazia explodir de rir.

Cavaleiros alemães, anônimo ano 1000Em seguida era preciso que ele montasse a cavalo, soubesse manejar a lança, a acha e a espada; ele devia mover-se livremente sob uma armadura de aço.

A Cavalaria, diz o autor de Jouvencel, é o que são os braços para o corpo, isto é, dispostos para defender sempre que necessário, a cabeça (a Igreja) e as pernas (o povo).

A Cavalaria é então um como que sacerdócio, mas de caráter militar.

Não eram admitidos na Cavalaria aqueles que estivessem desonrados por maus costumes.

Geralmente eram escolhidas festas litúrgicas – Natal, Páscoa, Ascensão, Pentecostes, São João – para se armar um Cavaleiro. De preferência se escolhia uma boa época do ano, pois a entrega das armas pedia ar livre e um dia ensolarado, devido ao júbilo com que tudo deveria ser acompanhado.

Muitos Cavaleiros acreditavam que não podiam ser dignamente chamados por este nome sem terem antes entrado em terras sarracenas para um combate. E só após uma batalha é que recebiam com alegria a investidura das armas.

Cavaleiro, desenhoDado o caráter de sacerdócio militar da Cavalaria, muitos jovens iam até Roma pôr-se aos pés do Soberano Pontífice, a fim de que o Vigário de Cristo os cingisse com a espada. Na Inglaterra os abades mostram-se ativos armadores.

Entregar uma espada a um jovem chamado a combater era prover à primeira e mais imperiosa de suas necessidades. Os nobres não se batiam a não ser a cavalo, donde o ato de colocar os esporões nas botas.

Com o correr do tempo a investidura do Cavaleiro foi se tornando religiosa.

O padrinho do noviço não é mais um barão, chefe de guerra, mas uma personalidade religiosa: o Bispo substitui o barão. É ele que cinge a espada no lado esquerdo do Cavaleiro; é ele quem diz: “Sê bravo!” ou “Sê Cavaleiro!”, locuções sinônimas. É ele quem dá a palmada na nuca inclinada.

Mas o Bispo não bate; ele “toca”. A entrega de armas tornou-se religiosa, melhor dizendo, “litúrgica”, e assim deve permanecer.

(Fonte: Funck Brentano , “Féodalité et Chevalerie”)



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