O Outro Lado
Agricultura = guardiã do meio ambiente
 
 

Entrevista da Globo Rural com Evaristo Eduardo de Miranda, agrônomo e ecólogo, coordenador da Secretaria de Acompanhamento e Articulação Institucional da 
Presidência da República
Janice Kiss
"Ainda existe o mito de que a agricultura é uma devoradora de espaços, engolindo florestas e cerrados"
Evaristo Eduardo de Miranda se preocupa com a relação entre agricultura e meio ambiente há pelo menos três décadas, quando passou a integrar a equipe da Embrapa Monitoramento por Satélite, em Campinas (SP), da qual foi chefe geral.
Agrônomo e ecólogo pela Universidade de Montpellier, na França, ele percebeu a importância da sustentabilidade no agronegócio antes do tema tornar-se recorrente.
Para ele, práticas agrícolas que levam em conta a biodiversidade precisam de técnicas e inovações, e não de crença ou boa vontade.
Há dois anos, ele é um dos coordenadores da secretaria do governo federal que atua na prevenção de catástrofes, como crises ambientais, energéticas e alimentares.
Esses são alguns temas de trabalho com que lida no dia a dia. 
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 Globo Rural
Globo Rural - A agricultura tem condições de ser parceira da sustentabilidade? 
Evaristo Eduardo de Miranda  - A sustentabilidade deve ser discutida levando em conta as mudanças  que ocorreram na atividade nas últimas décadas. Há mais de 20 anos, a  agricultura vive uma retração territorial constante de mais de 2 milhões  de hectares por ano.
Entre  os períodos de 1986 e 2006, a área ocupada pelos estabelecimentos  agrícolas diminuiu cerca de 45 milhões de hectares, ocupando cerca de  30% do território nacional. 
Mesmo assim, existe um mito de que a agricultura brasileira é uma devoradora de espaços, engolindo florestas e cerrados.
GR - Para quem a agricultura perdeu espaço?
Evaristo de Miranda  - Para áreas que não podem ser mecanizadas, para as cidades que ocupam  áreas agrícolas, para a infraestrutura do país, com estradas,  hidrelétricas e redes de transmissão que comem o espaço da agricultura  todos os anos.
Além  desses fatores, houve a criação de muitos parques, reservas, áreas  protegidas. Somente as unidades de conservação ocupam 30% do território  nacional.
São todas áreas nas quais a agricultura deixou de existir. Com certeza, ela é menor do que foi há 40 anos.
GR - A diminuição do território agrícola não pressiona áreas que devem ser protegidas? 
Evaristo de Miranda - De forma alguma. Entre 1976 e 2010, a área plantada com grãos no Brasil cresceu 27%, enquanto a produção aumentou 273%. 
Em  um mesmo hectare, o agricultor produz, em média, duas vezes e meia mais  milho, trigo, arroz, soja e feijão. Em 1970, um agricultor brasileiro  produzia alimentos para 73 pessoas. Em 2010, o número saltou para 155  pessoas. 
O  que acontece é que as áreas vêm sendo utilizadas de forma mais  intensiva e tecnificada, com duas e até três colheitas por ano. Em 30  anos, o país deixou a posição de importador de alimentos para tornar-se  um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas, graças aos  ganhos constantes de produtividade. 
Por  isso, insisto que sustentabilidade tem de ser discutida nesse contexto.  Ela é uma questão técnica, e não de crença ou boa vontade. 
GR - O produtor rural não encara a sustentabilidade como um fator limitante para sua atividade?
Evaristo de Miranda  - Vai encarar como uma grande oportunidade, e não mais como pressão.  Nos últimos tempos, os agricultores têm recebido mais por suas  colheitas. E, se estão mais capitalizados, eles têm condições de pensar  em conservação de solo e investir em tecnologias parceiras do meio  ambiente. 
Durante  décadas, o produtor se manteve descapitalizado, apesar de produzir  alimentos cada vez mais baratos para a população. E quem se apropriou  desse ganho todo? As cidades, que sempre tiveram na agricultura o  financiador líquido para seu desenvolvimento. 
GR - A agricultura pode exercer o papel de guardiã do meio ambiente? 
Evaristo de Miranda  - O papel da preservação ambiental da agricultura é gigantesco. Ela é  capaz de apresentar soluções para conservação da água e da  biodiversidade.
Além  de alimentos e fibras, ela garante uma das matrizes energéticas mais  limpas do mundo. Segundo dados do Balanço Energético Nacional de 2010,  47,3% da energia brasileira provém de fontes renováveis (cana-de-açúcar,  hidroelétricas, lenha, carvão, biodiesel, etc.), em comparação a uma  média mundial de 18,6%.
Isso contribui para que o Brasil esteja entre as nações que menos liberam gás carbônico na atmosfera. 
GR - Os produtores estão preparados para praticar uma agricultura que enfrentará cada vez mais as mudanças climáticas? 
Evaristo de Miranda - Eles são os que mais estão preparados para isso. Em parte, por conta do acervo de variedades que o Brasil conseguiu formar. 
Existe  soja para o clima frio, no Sul, e para temperaturas quentes, como no  Centro-Oeste, por exemplo. Talvez o que iremos ver será uma mudança no  uso das variedades conforme as regiões. 
Estudos  da Embrapa já avaliaram que haverá redução de determinados cultivos,  mas a expansão de outros. Os agricultores têm competência para lidar com  isso, pois são muito bem informados. 
Eles  estão na terra movidos por um compromisso maior, e não apenas por  questão de oportunidade. Pena que às vezes sejam tratados como  criminosos pelos que não viram a evolução agrícola no país. 
Essas pessoas ainda estão apegadas ao modelo do passado, de associar agricultura ao desmatamento. 
GR - Mas esse modelo ainda não está completamente fora de uso. 
Evaristo de Miranda  - Nos últimos 20 anos, uma série de alterações da legislação ambiental,  via decretos, portarias, resoluções e medidas provisórias do Poder  Executivo, restringiu severamente a possibilidade de remoção da  vegetação natural, exigindo sua recomposição e o fim de atividades  agrícolas em áreas tradicionalmente ocupadas.
Em  termos legais, apenas 29% do país seria passível de ocupação agrícola  intensiva. Hoje, mais de 71% do território são áreas protegidas. A média  mundial é de 12%. 
Essas  iniciativas não contemplaram realidades socioeconômicas existentes nem a  história da ocupação do Brasil e causam um enorme divórcio entre  legitimidade e legalidade no uso das terras.
GR - Como o senhor avalia a disputa entre ruralistas e ambientalistas em torno do Código Florestal? 
Evaristo de Miranda - De novo, deparamos com nossa incapacidade de reconhecer a diversidade e a ocupação territorial do Brasil. 
É  preciso levar em conta as áreas consolidadas nas quais a agricultura  está há séculos, como os vinhedos do Rio Grande do Sul, as maçãs em  Santa Catarina, o café em Minas Gerais e assim por diante. Mas o assunto  precisa ser trabalhado com critérios técnicos.
Pelos  cálculos da Embrapa, se houver a obrigação de recompor essas áreas de  preservação permanente, as APPs, o custo será de R$ 650 bilhões. Nas  contas do Instituto de Pesquisa Agrícola, esse valor é de R$ 1 trilhão. 
Com  certeza, o setor rural não tem como arcar com essa conta. É necessário  melhorar a agricultura, reduzir seu impacto ambiental, mas contemplando  as realidades que estão consolidadas. 
Não  é possível compará-las com áreas novas de ocupação, como as do Piauí,  Rondônia ou Pará, onde será necessário estabelecer restrições para que  elas não sejam ocupadas de forma errada. A gente tem de levar para lá o que há de melhor – e não a agricultura predatória utilizada no passado.
 
 
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